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“TV Mulher” volta gelado, com cara de revista feminina mensal

Mauricio Stycer

01/06/2016 09h25

tvmulher2016
O canal Viva tem sido muito feliz ao revisitar o acervo da Globo, seja reexibindo novelas que deixaram saudade, seja fazendo apostas ousadas, como a nova "Escolinha do Professor Raimundo". Alguma coisa não funcionou, porém, nesta volta do "TV Mulher", mais de três décadas depois de sua relevante passagem pela grade da principal emissora do país.

Não que a discussão do feminismo e dos problemas da mulher tenham deixado de ser necessários. Muito pelo contrário. Muitas questões de gênero no final do século 20 seguem urgentes no século 21.

O problema da nova "TV Mulher" é outro. É o seu formato de "revista" com pauta sem temperatura jornalística. Como estrear um programa deste tipo no dia 31 de maio de 2016 sem fazer uma única menção ao caso de estupro coletivo que está mobilizando o país há uma semana? Ou como fazer o próximo programa sem discutir a nomeação de uma mulher que é contra o aborto mesmo em caso de estupro para gerir a Secretaria de Políticas para Mulheres do governo federal?

Gravado com antecedência, este novo "TV Mulher" nasceu, infelizmente, deslocado no tempo. Logo na abertura, revivendo a versão original, Ney Gonçalves Dias lembrou que "quem estivesse em evidência, seja de que lado fosse, era convidado a dar entrevista no programa".

Ao invés de fazer isso, a atração optou na estreia por uma entrevista com a cantora Maria Rita, apenas para homenagear sua mãe, Elis Regina, que foi "madrinha" da primeira versão.

A jornalista Flavia Oliveira, uma das colunistas do "TV Mulher", até lembrou que problemas antigos, como violência, salários mais baixos e preconceito racial, continuam afetando as mulheres, mas tratou do tema de forma quase enciclopédica.

Marília Gabriela, uma das grandes entrevistadoras da TV brasileira, retomou o comando da atração engessada a um texto muito bem escrito, mas com cara de jornal ou revista, pouco coloquial para a TV.

O seu filho, Theodoro Cochcrane, apresentado como figurinista do programa, é igualmente repórter. Coube a ele entrevistar Regina Duarte, para outra sessão nostalgia.

Foi, enfim, uma estreia muito ruim. Os demais episódios, já gravados, irão ao ar toda terça-feira, às 22h30, no Canal Viva.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.