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Livro fundamental de um dos criadores do “padrão Globo” ganha 2ª edição

Mauricio Stycer

09/09/2015 12h16

walterclark1Uma boa notícia para quem se interessa pela história da televisão brasileira: acaba de ser publicada a esperada segunda edição de "O Campeão de Audiência". O livro de memórias de Walter Clark (1936-1997) é um relato fundamental sobre como a Rede Globo, uma empresa endividada e sem prestígio nos seus primeiros anos, se transformou na maior emissora do país.

Lançado originalmente em 1991, esgotado há muitos anos, o livro apresenta a versão de Clark sobre um sem número de episódios polêmicos – a criação do chamado "padrão Globo de qualidade", a invenção da grade da emissora, a profissionalização do sistema de walterclarksegundaedicaopublicidade, o lançamento do "Jornal Nacional", o acordo de Roberto Marinho com o grupo Time-Life, os incêndios que atingiram as principais redes de TV nos anos 70, entre outros.

Com salário na casa de US$ 1 milhão por mês, Clark era um dos executivos mais bem pagos do Brasil. Era, também, um sujeito vaidoso, que gostava de aparecer publicamente. No livro, ele fala abertamente dos excessos que cometeu em sua vida privada (álcool e drogas), dos muitos namoros e casamentos com mulheres famosas e da sua relação pessoal com Roberto Marinho e José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni.

Quando Clark gravou suas memórias para o jornalista Gabriel Priolli já haviam se passado mais de dez anos de sua demissão da Globo, ocorrida em 1977. Nada do que fez depois deu muito certo ou durou muito tempo. É nítido no livro o seu ressentimento com Boni e Marinho, mas isso não tira a força de suas lembranças, na minha opinião.

boniclarkClark chegou à Globo no final de 1965, oito meses depois da inauguração da TV, e contratou Boni no início de 1967. No livro, ele se diz traído pelo amigo e o responsabiliza, entre outros, por sua demissão.

"O Campeão de Audiência" (Summus Editorial, 400 págs., R$ 49,90) é um livro de memórias narrado de forma viva, apaixonada, sem muitos freios na língua. Há inúmeros estudos e livros sobre a história da Globo, mas poucos relatos biográficos de protagonistas desta história.

Neste sentido, foi uma obra pioneira no resgate da história dos primórdios da Globo. Depois dele, a versão dos demais protagonistas também foi contada, mas nenhuma tem a força do relato de Clark. Para quem se interessa pelo assunto, cito abaixo outros quatro livros que trazem memórias sobre o nascimento da principal emissora do país.

"Roberto Marinho", de Pedro Bial (Jorge Zahar Editor, 2005)
"Meu Capítulo na Rede Globo", de Joe Wallach (Topbooks, 2011)
"O Livro do Boni", de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Casa da Palavra, 2011)
"Quem e como fizemos a TV Globo", de Luiz Eduardo Borgeth (A Girafa, 2003)

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.