“Além do Horizonte” pagou o preço de fugir do padrão de “novela das 7”
Os números são implacáveis – "Além do Horizonte" foi a novela das 7 com a mais baixa audiência no horário. O que me parece menos claro é o significado destes números. A novela foi um fracasso por que era ruim ou por que apresentou algo inesperado e indesejado pelo público deste horário?
Em alguns ambientes, esta discussão talvez não faça sentido. O que importa são os números. Entendo, porém, que o resultado de "Além do Horizonte" no Ibope merece uma reflexão menos simplista.
Para começar, sugiro ao leitor um exercício fácil: lembrar de alguns títulos com qualidade muito inferior, mas que tiveram audiência maior que a da novela de Marcos Bernstein e Carlos Gregório. Vou evitar citar nomes aqui, para não ser desnecessariamente indelicado, mas tenho certeza que a tarefa não é difícil.
Acho que "Além do Horizonte" foi rejeitada por parte do público porque propôs uma narrativa diferente, uma história de mistério, ação e aventura, que exigia um tipo de atenção que não se dá normalmente às comédias românticas do horário.
Concordo com Bernstein (à esq. na foto acima) quando ele diz: "A gente provou que é possível fazer além da comédia. É mais uma alternativa para o horário. É bom tanto para autores, que podem criar em outro gênero, quanto para o público que tem uma alternância. Tem espaço para comédia, romance, aventura… É bom ter variedade".
Dentro do que a novela se propôs, houve erros e acertos. O melhor, na minha opinião, foi mesmo a ideia de introduzir um tema misterioso, a tal comunidade onde seria possível encontrar a "felicidade", em torno do qual toda a trama girou.
Também gostei de ver a história dividida em três planos – o Rio, a pequena Tapiré e a comunidade – cada um com seus núcleos principais e histórias paralelas, mocinhos e vilões.
Por fim, vi como uma ousadia digna de elogio a proposta de escalar jovens atores, alguns com pouca experiência, para protagonizar a novela. É verdade que nem todos deram conta do recado, mas isso acontece também quando atores consagrados têm a mesma responsabilidade.
Thiago Rodrigues (William) começou bem e estava fazendo ótimo par com Juliana Paiva (Lili), mas a mudança na história acabou deixando o personagem dele sem graça. Vinicius Tardio (Rafa), a quem parecia destinado um papel importante, não ocupou este espaço.
Em uma trama paralela, Igor Angelkorte (Marcelo) e Laila Zaid (Priscila) injetaram humor da melhor qualidade à trama. As irmãs "artísticas", vividas por Luciana Paes (Ana Selma) e Mariana Xavier (Ana Rita), também tiveram grandes momentos de graça. Mariana Rios (Celina) mostrou talento, apesar das reviravoltas da personagem. E a novela ainda revelou um ator-mirim, o carismático JP Rufino (Nilson).
Entre os veteranos, a melhor surpresa foi Maria Luisa Mendonça, na pele da dondoca Inês. Antonio Calloni (LC) e Alexandre Nero (Hermes) foram vilões ambíguos, como se espera do tipo (uma pena a saída prematura do segundo, engolido pela areia movediça, no meio da trama).
Encerro repetindo algo que escrevi no início do ano. O investimento da Globo em uma novela "esquisita" como "Além do Horizonte" é apenas um exemplo de menor importância. Mas espero, em 2014, que a reação negativa não influencie outras decisões ousadas e necessárias, seja da própria emissora, seja das suas concorrentes.
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