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Apresentadora tenta esclarecer polêmica e diz que não apoiou "justiceiros"

Mauricio Stycer

06/02/2014 19h59

Quarenta e oito horas depois de divulgar a opinião de sua apresentadora, Rachel Sheherazade, em defesa do grupo que agrediu um suposto assaltante e o prendeu nu, em um poste, no Rio, o SBT abriu espaço para que ela tentasse esclarecer a sua polêmica declaração.

Se antes a jornalista havia classificado a "atitude dos vingadores" como "compreensível", ela agora mudou o discurso e diz que não apoia este tipo de ação.

"Não defendi a atitude dos justiceiros. Defendi o direito da população de se defender quando o Estado é omisso, quando a polícia não chega. Todo cidadão tem o direito de prender um meliante flagrado em delito. O que não se pode é confundir o direito de se defender com a barbárie, a violência pela violência. Não defendo a violência. Defendo a paz", disse.

Seu companheiro de bancada, Joseval Peixoto, a entrevistou ao vivo. "Você é  uma mulher cristã, dura, mas pergunto a você: você é a favor da violência?"

sbtsheherazadeEla respondeu: "Absolutamente não. Sou uma pessoa do bem. Estou do lado do bem, como diria Renato Russo, com a luz e os anjos. Jamais defenderia a violência. Defendo as pessoas de bem neste país, as pessoas que foram abandonadas à própria sorte porque não têm polícia, não tem segurança pública".

Na terça-feira (04), a apresentadora havia se referido ao adolescente agredido e preso com um cadeado de bicicleta como "o marginalzinho amarrado ao poste". E disse: "Num país que sofre de violência endêmica, a atitude dos vingadores é até compreensível".

Também observou: "O Estado é omisso, a polícia desmoralizada, a Justiça é falha… O que resta ao cidadão de bem, que ainda por cima foi desarmado? Se defender, é claro". E finalizou: "O contra-ataque aos bandidos é o que chamo de legítima defesa coletiva de uma sociedade sem Estado contra um estado de violência sem limite".

Ao relembrar o caso nesta quinta-feira, o "SBT Brasil" exibiu uma reportagem sobre ações recentes de grupos que se autointitulam "justiceiros" no Rio. Curiosamente, a ação considerada "compreensível" por Sheherazade, foi chamada de "um dos casos mais chocantes" pela repórter Claudia Ramos, da mesma emissora.

Peixoto leu um texto em que observou haver "uma certa confusão em separar a opinião pessoal dos apresentadores e a linha editorial do jornalismo do SBT". Em momento algum, porém, ele afirmou haver alguma divergência da emissora com o que Sheherazade falou dois dias antes.

O comentário teve muita repercussão. Na quarta-feira (05), o Partido Socialismo e Liberdade (Psol) divulgou nota informando que irá formalizar no Ministério Público representação contra a emissora e a apresentadora por apologia ao crime. Na visão do partido, Sheherazade e o SBT "fizeram incitação ao crime, à tortura e ao linchamento."

Em carta divulgada nesta quinta-feira (06), o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Município do Rio de Janeiro e a Comissão de Ética da entidade também se manifestaram em repúdio às declarações da apresentadora.

O sindicato quer que a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) "investigue e identifique as responsabilidades neste e em outros casos de violação dos direitos humanos e do Código de Ética dos Jornalistas Brasileiros, que ocorrem de forma rotineira em programas de radiodifusão no nosso país".

O comentário original da apresentadora do "SBT Brasil" pode ser visto aqui.

Em tempo: Recomendo a leitura do texto do jornalista Janio de Freitas, colunista da "Folha", sobre o assunto: Uso sem moderação.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.