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S\u00f3 consegui ver hoje, na calma do feriado, o especial \u201cAlexandre e Outros Her\u00f3is\u201d, projeto de Luiz Fernando Carvalho, baseado em Graciliano Ramos, que a Globo levou ao ar na noite do dia 18.
Lamento n\u00e3o ter visto antes. Al\u00e9m da qualidade que Carvalho imprime a todos os seus trabalhos, este programa exp\u00f5e um lado menos valorizado da obra de Graciliano, o seu olhar carinhoso e bem humorado sobre alguns tipos populares, no caso, um contador de hist\u00f3rias e o seu s\u00e9quito.
Adaptado de dois contos, \u201cO olho torto de Alexandre\u201d e \u201cA morte de Alexandre\u201d, com texto assinado por Lu\u00eds Alberto de Abreu e pelo pr\u00f3prio Carvalho, o especial \u00e9 protagonizado de forma memor\u00e1vel por Ney Latorraca. O elenco se completa com Marcelo Serrado, Fl\u00e1vio Bauraqui, Fl\u00e1vio Rocha, Marc\u00e9lia Cartaxo e Lucy Pereira, todos excelentes.
Dias antes de o especial ir ao ar, o \u201cEstad\u00e3o\u201d publicou uma entrevista com o diretor que \u00e9 quase um manifesto cultural, em defesa de uma televis\u00e3o mais original, sem a muleta da c\u00f3pia de modelos estrangeiros, mais criativa e respons\u00e1vel. Reproduzo abaixo alguns trechos da conversa de Luiz Fernando Carvalho com a rep\u00f3rter Thais Arbex.
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Sobre o humor de Graciliano
Um texto c\u00f4mico n\u00e3o \u00e9 s\u00f3 aquele que se encontra balizado entre programas de esquetes e seriados que emulam a est\u00e9tica americana. Graciliano Ramos faz falta \u00e0 televis\u00e3o, assim como muitas outras literaturas: \u00e9 mais moderno do que os moderninhos de plant\u00e3o, muito mais vivo, mais capaz de traduzir as contradi\u00e7\u00f5es de nosso pa\u00eds sem apelar para as caricaturas.
Sobre a TV aberta no Brasil
O modelo est\u00e1 dando sinais de esgotamento. Precisamos pensar em uma televis\u00e3o do futuro. Esta j\u00e1 passou. Estamos reproduzindo um modelo de cinquenta anos atr\u00e1s!
Para onde ir
No meu modo de sentir, sua produ\u00e7\u00e3o \u00e9 erguida a partir dos anseios genu\u00ednos da popula\u00e7\u00e3o e n\u00e3o apenas reproduzindo, infindavelmente, consagra\u00e7\u00f5es imediatas do mercado.(…) Abra\u00e7ar a responsabilidade de n\u00e3o formar apenas telespectadores, mas cidad\u00e3os.
O lugar de Carvalho na Globo
Meu caso n\u00e3o \u00e9 de indiferentismo ou independ\u00eancia, \u00e9 de solid\u00e3o. E talvez seja isso que me garante uma certa objetividade. N\u00e3o tenho atr\u00e1s de mim ningu\u00e9m com quem eu tenha interesses comuns a defender.
Criar ou copiar?
\u00c9 preciso estimular essa criatividade. S\u00f3 amadurecemos nossa t\u00e9cnica e nossa linguagem se formos capazes de criar mais e copiar menos.
Em tempo: A entrevista est\u00e1 publicada aqui. O programa registrou 19 pontos no Ibope em S\u00e3o Paulo, um bom n\u00famero.
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