Topo

Apesar do humor irregular, “Divertics” surpreende com embalagem ousada

Mauricio Stycer

09/12/2013 05h01

diverticsminotauro

Nova atração da Globo nas tardes de domingo, "Divertics" não chegou a surpreender pelo conteúdo do humor que mostrou, mas pela embalagem. O programa se apresenta como uma obra em construção, expondo parte do seu processo de criação à plateia no estúdio e ao público em casa.

Containeres gigantes estão espalhados pelo espaço e funcionam como cenários de quadros, reforçando a ideia de que a atração não está pronta ainda. Entre um e outro esquete, há vinhetas musicais e performances, dando um ar ora de show ora de espetáculo circense ao humorístico.

diverticsjorgefernandoCom esta mesma intenção de expor bastidores, o público vê a toda hora o diretor do programa, Jorge Fernando, rindo, dando ordens, conversando com a mãe e apertando teclas de um computador, enquanto o redator-final, Claudio Torres Gonzaga, aparece no meio da plateia. Em um dos quadros, inclusive, diretor e roteirista interrompem a cena para debater o andamento da piada diante do ator (Leandro Hassum) que está interpretado a situação.

Em matéria de humor, propriamente, "Divertics" me pareceu bem irregular. No melhor momento, Renato Aragão entrou numa delegacia e disse: "Vim fazer uma queixa: roubaram meus bordões." Na bela homenagem que ganhou, os humoristas fizeram piadas repetindo várias de suas frases famosas, sublinhando a permanência do seu humor.

Regina Casé também fez uma boa participação especial, contracenando com Luis Fernando Guimarães, colega de teatro (Asdrúbal Trouxe o Trombone) e "TV Pirata". Eles vivem um casal que discute a relação lendo as mensagens encontradas em biscoitos da sorte de um restaurante chinês.

diverticsGuimarães e Hassun, os dois principais humoristas do programa, ocupam mais espaço e parecem ser também os que mais apostam no improviso. Ainda assim, o roteiro foi generoso com quase todo o bom elenco — Maria Clara Gueiros, Rafael Infante, Marianna Armellini, Roberta Rodrigues, Ellen Rocche, David Lucas, Nando Cunha e Hilda Rebello. Muitas vezes, porém, o riso não saiu.

Falo, por exemplo, do quadro de abertura, em que Maria Clara é uma aeromoça rigorosa, que pune os passageiros incapazes de responder corretamente a perguntas que faz sobre os procedimentos de segurança. Da mesma forma, não vi graça em uma cena de western protagonizada por todas as mulheres, falando de problemas femininos (unhas, cabelos etc). Nem da luta de MMA entre Minotauro e Hassun.

Houve quem visse "cópia" de um número do grupo Porta dos Fundos no "Divertics". No esquete, Marianna Armellini está na plateia de um jogo de futebol e fica gritando para Nando Cunha,que faz o bandeirinha, mostrando que o conhece bem intimamente. Ao final, revela-se que ele mudou de time e agora tem um caso com o árbitro da partida, vivido por Luis Fernando Guimarães.

No vídeo do Porta dos Fundos, uma mulher passa parte do jogo gritando com seu namorado, que é jogador, até que uma outra mulher, também na plateia, começa igualmente a gritar dando a entender que tem um caso com o mesmo atleta. A discussão das duas é abafada pelos gritos da torcida na hora do gol.

Não me pareceu cópia, mas o fato de Rafael Infante fazer parte do elenco tanto do Porta dos Fundos quanto do "Divertics" pode ter reforçado esta comparação.

"Divertics", enfim, me pareceu um bom divertimento. Ainda que irregular, achei bem mais engraçado, por exemplo, do que "Os Caras de Pau", o último humorístico que a Globo exibiu num horário semelhante, aos domingos, antes do "Esquenta".

Em tempo: O programa registrou 11 pontos em sua estreia, em São Paulo. Há uma semana, no mesmo horário, o "Esquenta" marcou 12.

Leia também
Flavio Ricco Globo faz investimento milionário em novo programa
Não tenho mais cobrança em ser brilhante, diz Jorge Fernando
"Vou poder fazer de tudo, além da gostosa", diz Ellen Rocche
"Não faço humor escatológico, nem político", diz Luiz Fernando Guimarães

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.