“Fio Maravilha” antecipou debate sobre pagamento de direitos a biografados
Homenagem do cantor e compositor Jorge Ben Jor a um jogador que atuou pelo Flamengo no início da década de 70, a canção "Fio Maravilha" tem uma história interessante, que vale a pena ser lembrada neste momento em que se discute o pagamento de direitos a personagens de biografias.
Depois de alguns anos cantando a música, cujos versos descrevem um momento apoteótico do jogador ("Tabelou, driblou dois zagueiros / Deu um toque driblou o goleiro / Só não entrou com bola e tudo / Porque teve humildade em gol"), Ben Jor alterou a letra e passou cantar "Filho Maravilha".
A razão da mudança, sempre se disse, foi um processo movido pelo então jogador, cujo nome de batismo é João Batista de Sales. Em abril de 1994, a poucos meses da Copa nos Estados Unidos, encontrei Fio diante da pizzaria em que trabalhava como entregador, em San Francisco, na Califórnia.
A entrevista, com direito a uma foto que eu fiz de Fio segurando uma pizza, saiu na edição da "Folha" de 17 de abril de 1994. A certa altura da conversa, houve o seguinte diálogo:
Folha: Você sabe que Jorge Ben Jor tirou o seu nome da música?
Fio: Agora que ele tirou todo mundo já sabe quem é o Fio. Fiquei na lembrança do povo. Só pelo futebol, eu não seria tão conhecido.
Folha: Por que você processou Jorge Bem Jor?
Fio: Ninguém processa alguém que faz uma coisa boa para você.
Folha: O que aconteceu?
Fio: Eu procurei saber quais eram os meus direitos na época. O meu advogado procurou o Jorge Ben para saber se eu tinha direitos a receber. Ele estava muito ocupado, não atendeu a gente. Então, o advogado foi a Justiça saber quais eram os meus direitos.
Ou seja, Fio afirmou, então, que não processou Ben Jor, mas julgou que tinha direitos a receber, à maneira do que pensam, hoje, grandes nomes da música brasileira, como Caetano Veloso, Chico Buarque, Gilberto Gil e Djavan. Ben Jor reagiu cancelando a homenagem.
Agradeço ao jornalista Márvio dos Anjos pela lembrança do caso Fio-Ben Jor. A foto do músico é de Flavio Florido/UOL.
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