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“Sangue Bom” segue a boa tradição de diálogo com outras novelas

Mauricio Stycer

23/05/2013 16h40

Como toda empregada ou cozinheira de novela, Nice (Izabella Bicalho) é abusada e gosta de se meter na vida da patroa. Numa cena muito engraçada, nesta quarta-feira (22), ela se recusou a dançar o funk da Mulher Mangaba para o advogado de Damaris (Marisa Orth). "Dona Damaris, eu sou paga para cuidar da casa. Não é para dançar com as visitas", disse Nice, levando a patroa a dizer: "Mas que insolência! Ta pensando que isso aqui é o quê? Novela das empreguetes? Não, querida. Aqui você é elenco de apoio. Tá?"

A referência a "Cheias de Charme" (2012) não é a primeira em "Sangue Bom". Maria Adelaide Amaral e Vincent Villari têm recorrido com freqüência à metalinguagem na novela. Era esperado, aliás, que isso ocorresse, uma vez que a mídia é um dos temas principais da história. Em meio ao texto afiado e bem-humorado da dupla, não faltam referências engraçadas, como esta que citei, a outras novelas, atores e celebridades.

Há uma longa tradição de metalinguagem nas novelas da Globo. Silvio de Abreu talvez seja o campeão na matéria. Generoso, sempre fez muitas citações a trabalhos de colegas em suas comédias, desde a década de 80. No remake de "Ti-Ti-Ti" (2010),  a própria Maria Adelaide Amaral fez várias brincadeiras com outras novelas. Uma delas, como me lembraram Andre Santana e Nilson Xavier,  parece um pouco com a cena de "Sangue Bom". Jaqueline, a personagem de Claudia Raia, observa a certa altura: "Olha a empregada querendo fala. Tá pensando que aqui é novela do Manoel Carlos?"

Aguinaldo Silva, em "Fina Estampa" (2011), também citou outra novela, no caso, de sua própria autoria, "Senhora do Destino", numa cena igualmente engraçada, em que Tereza Cristina (Christiane Torloni) cometeu um crime imitando Nazaré Tedesco (Renata Sorrah).

Mais do que generosidade, saber dialogar com trabalhos semelhantes de colegas denota consciência de que a teledramaturgia tem uma história e que é possível refletir sobre o próprio ofício de maneira inteligente e bem-humorada.

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Atualizado às 18h45.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.