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Café no bule de Ratinho esfriou

Mauricio Stycer

01/06/2012 01h29

Mais do que a participação do ex-presidente Lula no "Programa do Ratinho", me interessa dizer duas ou três coisas sobre o papel desempenhado pelo apresentador do SBT neste evento.

Ratinho tratou Lula não com a educação e o respeito que merece um ex-presidente, mas com a reverência que se dedica aos santos. Parecia estar contemplando uma figura divina, intocável, não um político de carne e osso, no pleno exercício de promoção eleitoral.

Fosse Lula um ex-político falando sobre política, até poderia se aceitar de Ratinho tamanha docilidade. Mas, ao hospedar em seu programa um ato de campanha, o apresentador abriu mão do comando da própria atração.

A amizade entre os dois, sublinhada por Lula assim que tomou posse do auditório, não justifica o que ocorreu. "Por que o Ratinho? Porque eu já comi rabada na casa do Ratinho. Porque o Ratinho já comeu rabada lá na Granja do Torto. E por que antes de homem de televisão e presidente, nós somos amigos".

Por uma noite, o "Programa do Ratinho" foi, na realidade, "Programa do Lula", assim como, no futuro, pode vir a ser o programa de outros políticos. A única pessoa que perde com isso é o próprio Ratinho.

O apresentador que fez fama por sua coragem de peitar entrevistados, bater o cassetete na mesa, exigir teste de DNA de pessoas humildes, quando tem a chance de voltar à cena em grande estilo não faz um único questionamento ao ex-presidente. Parodiando uma de suas expressões favoritas, o café no bule esfriou.

Observação: Para evitar ofensas, xingamentos e brigas de caráter político, não vou aceitar comentários neste texto. O noticiário sobre a participação de Lula no "Programa do Ratinho" pode ser lida aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.