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Vida de Adriano ganha dimensão de novela na TV

Mauricio Stycer

23/04/2012 12h02

A longa entrevista de Adriano ao "Fantástico" neste domingo teve, não por acaso, o sabor de "dejà vu".

Nos últimos três anos, o craque deu cinco longas entrevistas à Globo, sempre obedecendo a um mesmo modelo, que podemos chamar de "confessional". Cara a cara com um repórter, Adriano fala de seus problemas pessoais, das dificuldades na infância, de sua relação com álcool e drogas, da família e, brevemente, de futebol. Uma trilha sonora ao fundo reforça, em quase todas, o clima dramático e estimula o espectador também a chorar.

Foram três entrevistas ao "Fantástico" e duas ao "Esporte Espetacular". O tom da abordagem é sempre igual, entre o dramático e o piegas, e as declarações soam incrivelmente semelhantes nas conversas que o jogador teve com os jornalistas Glenda Koslowski, Patrícia Poeta (duas vezes), Regis Rösing e Graziela Azevedo.

Neste período, o Imperador deu outras entrevistas, a diferentes veículos, mas quem se der ao trabalho de assistir a estas cinco, todas disponíveis no You Tube, verá claramente como Adriano deixou de ser um jogador para se transformar no personagem de uma novela dramática.

É bem provável que Heleno de Freitas e Garrincha, entre outros jogadores-problema do passado, se vivessem nos dias de hoje, também teriam suas vidas documentadas em forma de capítulos pela televisão.

A curiosidade das pessoas sobre a vida privada de figuras públicas justifica, jornalisticamente, a busca por informações sobre Adriano. Esta "novelização" é, digamos assim, uma consequência. Tenho a impressão, porém, que a repetida exposição dos problemas do jogador ao longo destes últimos anos, registrada nestas entrevistas, não o ajudou em nada.

Em tempo: um resumo da mais recente entrevista de Adriano pode ser lido aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.