Record abraça “guerra religiosa” e mostra enriquecimento de bispo rival de Edir Macedo
Em dois vídeos divulgados no início do ano, o bispo Edir Macedo procurou associar o pastor Valdemiro Santiago, líder da Igreja Mundial, concorrente da sua Universal, ao diabo. Num dos vídeos, Macedo aparece exorcizando uma mulher supostamente possuída pelo “demônio”, que diz: “Valdemiro é meu servo. Todos que estão lá dentro estão no pecado”.
Neste último domingo, a Record, de propriedade de Macedo, deu continuidade à denúncia, não com exorcismo, mas com uma reportagem de 26 minutos sobre “o apóstolo milionário” no programa “Domingo Espetacular”.
“Durante mais de quatro meses, nossa equipe seguiu a trilha do dinheiro, que começa na doação dos fiéis e vai parar no bolso do novo criador de gado do Pantanal”, disse Marcelo Rezende, repórter policial experiente, que conduziu a reportagem.
Irônico, Rezende falou do “milagre do enriquecimento” do pastor Valdemiro, em especial as duas fazendas adquiridas por ele no Mato Grosso. A reportagem prometeu mostrar “o paraíso que o dinheiro dos fieis da Igreja Mundial do Poder de Deus proporcionou a Valdemiro Santiago, o apóstolo.”
No esforço de ser didático aos espectadores da Record, Rezende parecia estar falando com os fiéis da Universal: “A área somada das duas fazendas é duas vezes o tamanho da cidade de Jerusalém, a terra sagrada dos cristãos”, disse.
Mas também usou imagens de compreensão mais direta: “Somando tudo, o investimento de Valdemiro no Mato Grosso chega a R$ 50 milhões em dinheiro, valor suficiente pra comprar 20 Ferraris 0 KM, o carro mais caro do Brasil, ou 10 coberturas em Nova York, a cidade mais cara do mundo”.
Na parte final da reportagem, Rezende lembrou que Valdemiro foi pastor da Universal, mas deixou a igreja de Macedo em 1998 para fundar a sua própria. “Para crescer rapidamente, Valdemiro ataca com violência a igreja a qual pertenceu, principalmente o bispo Edir Macedo”.
De passagem, sem se alongar, Rezende informou que Macedo é também proprietário da Record.
Sobre Valdemiro, o repórter da Record disse ainda: “Hoje esbanja uma vida de riqueza com direito a aviões, helicópteros e carros de luxo”. E concluiu a reportagem ouvindo um “especialista” da área tributária, que afirmou: “Eu diria que a exploração da atividade agropecuária é incompatível com qualquer atividade religiosa.”
Não é a primeira vez que Macedo usa a Record em benefício da “guerra religiosa” que trava contra rivais. Em novembro de 2011, o mesmo “Domingo Espetacular” exibiu uma reportagem de 39 minutos sobre um fenômeno religioso, encontrado em diferentes práticas neopentecostais, que a emissora ironizou chamando de “cai-cai”.
Como escrevi na ocasião, na prática, a reportagem foi um ataque impiedoso aos pastores que fazem apologia desta prática, com o objetivo de alertar eventuais fiéis de que o “cai-cai” é, na verdade, charlatanismo ou obra do demônio.
Dentro da emissora, o ataque ao “cair no espírito”, como também é conhecida a prática, foi visto como uma vitória de setores da Igreja Universal que defendem a utilização da Record no ataque aos adversários religiosos e, também, no esforço de recuperar o número de fiéis, que estaria em queda.
Como se vê, a utilização da emissora pela igreja continua intensa.
Em tempo: Segundo o blog Outro Canal, a reportagem bateu recorde de audiência: registrou 20 pontos no horário, empatando com a Globo em primeiro lugar. Com ela, o “Domingo Espetacular” registrou a sua melhor média no ano: 16 pontos.
PS. Para evitar que o blog se transforme em palco desta guerra religiosa, não vou autorizar comentários a este texto.
Sobre o autor
Jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 29 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na “Folha de S.Paulo''. Começou a carreira no “Jornal do Brasil'', em 1986, passou pelo “Estadão'', ficou dez anos na “Folha'' (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o “Lance!'' e a “Época'', foi redator-chefe da “CartaCapital'', diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros “Adeus, Controle Remoto'' (editora Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e “O Dia em que Me Tornei Botafoguense'' (Panda Books, 2011).
Contato: mauriciostycer@uol.com.br
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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.
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