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Aguinaldo Silva escreve sobre “proibição de beijo gay”, mas fala é cortada de “Fina Estampa”

Mauricio Stycer

13/01/2012 17h50


A morte do cozinheiro Fred (Carlos Vieira) depois de cair da escada da mansão de Tereza Cristina (Christiane Torloni) ocupou três cenas de "Fina Estampa" nesta quinta-feira. Na primeira, imediatamente depois da queda, o mordomo Cro (Marcelo Serrado) se desespera ao ver o corpo estendido no chão.

Na cena seguinte, ele revela que eram namorados. "Ele virou as costas pra mim e me deixou viúva", diz, revelando um dos mistérios da trama. "Minha vida acabou. Que sentido faz eu acordar amanhã se eu não posso mais viver o meu amor."

Na terceira cena, que encerrou o capítulo, Crô discute com Teresa Cristina. A certa altura do texto escrito por Aguinaldo Silva, o mordomo dizia: "E agora ele se foi…  Sem sequer me dar um último beijo!". E a perua respondia: "E nem podia… Beijo gay tá proibido mesmo!"

A cena que foi ar contém praticamente todos os diálogos escritos por Aguinaldo Silva, menos esse. O blog o procurou para saber o que houve, mas ele não respondeu.

Em 2010, a Rede Globo se manifestou oficialmente sobre o assunto, dizendo que o "beijo gay" não era apropriado para a sua audiência. Curiosamente, o próprio Aguinaldo Silva disse, em entrevista ao UOL, ser contra a exibição de beijo entre homens em novelas. "E agora eu decidi que beijo gay só na minha casa. Na novela, não. Não é questão (da emissora) deixar ou não. Eu acho que as pessoas não aceitam."

Na véspera do Ano Novo, 30 de dezembro,  Silva publicou um texto em seu blog intitulado "NÃO PODE NÃO PODE NÃO PODE!". Em letras garrafais, dizia:

Diz Crô: "Ele se foi sem me dar um último beijo". Responde Tereza Cristina: "Não deu nem podia; o beijo gay está proibido mesmo!" Digo eu: "Vou-me embora pra Passárgada. Lá o rei é gay e dá beijo!"

Nesta quinta-feira, 12 de janeiro, assim que a cena foi exibida, Aguinaldo Silva foi ao Twitter e postou um elogio ao ator: "Marcelo Serrado arrasou como viúva, foi ou não foi? Grande ator é assim, sai da comédia e entra no drama num piscar de olhos… E funciona!".

Pouco depois, republicou o mesmo diálogo que havia colocado em seu blog duas semanas atrás: "Ele se foi sem me dar um último beijo", diz Crô. "Não deu nem podia", responde Tereza Cristina, "o beijo gay está proibido!"

Por que a fala não foi ao ar?

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.