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O fim do REM e a trilha sonora do Windows 95

Mauricio Stycer

22/09/2011 17h44

Sobrevive mais como lenda do que fato, mas jamais foi desmentida, a história de que Bill Gates ofereceu uma fortuna ao REM para usar a canção "It´s the End of the World As We Know It" como trilha sonora da campanha de lançamento do Windows 95.

Encontrei referências a muitos valores, entre US$ 10 milhões e US$ 12 milhões, que Michael Stipe e colegas de banda teriam recusado. Fato é que a Microsoft lançou o então revolucionário sistema operacional ao som de "Start Me Up", dos Rolling Stones.

Quem me lembra desta história é o jornalista Mauricio Savarese, outro fã inconsolável com a notícia do fim do REM, anunciado na quarta-feira. Ao pesquisar sobre o assunto, me dei conta de que a banda nunca se vangloriou deste feito.

Não que o REM fosse um grupo "alternativo". Ao contrário sempre esteve "integrado ao sistema", contratado por gravadora poderosa, participação na mídia, percorrendo os mais lucrativos circuitos de shows.

Não são coisas iguais, porém. Uma, é fazer música (ótima, na minha opinião) e viver exclusivamente dela. Outra, é ajudar alguém a vender um produto industrial embalado por uma canção, aproveitando-se de uma ideia ("o mundo como o conhecemos, acabou") poética.

Alguém poderá lembrar que, embora fosse "integrada", a banda de Stipe & Cia nunca deixou de apoiar as "boas causas", de apelo entre o público mais "alternativo", como concertos em prol do Tibete etc. Marketing? Nunca me pareceu.

É nesse contexto, de um grupo com os pés fincados na realidade, mas sem perder de vista o sonho, que eu entendo esta história sobre a recusa em vender os direitos de uma música para Bill Gates. Acho que diz muito sobre o REM.

Também fala muito o primeiro show da banda no Brasil, no Rock in Rio 3, em 2001. Foi emocionante. Não apenas pela oportunidade de ver (relativamente) de perto a banda, mas pelo espetáculo visceral proporcionado pelos músicos.

Stipe não foi o primeiro músico estrangeiro a se entregar de corpo e alma num show no Brasil, mas os especialistas em música haverão de concordar comigo que a maioria não faz isso. Ajudado pela caipirinha, que bebeu do início ao fim, liderou um espetáculo que o fã jamais esquecerá.

O segundo show que vi, no Via Funchal, em São Paulo, em 2008, não foi tão forte, em parte pelas deficiências sonoras do ambiente, em parte porque a banda não estava mais em seu melhor momento.

O número de boas músicas e bons CDs que o REM deixa em seus 31 anos de atividade é tão grande que não vejo motivo para desespero dos fãs. É uma banda que fez história e deixou seu lugar no coração de um grande público.

Em tempo: Músicas, vídeos, fotos e notícias sobre o REM podem ser encontrados aqui, nesta página especial do UOL Entretenimento.

Foto: AP Photo/Keystone/Stephen Schmidt

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.