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Tipos de leitor: o Talifã

Mauricio Stycer

15/09/2011 14h26

Depois de ver Luan Santana pela primeira vez, no programa do Faustão, em 2010, Bruno Mazzeo escreveu no Twitter que o cantor "era a versão vesga do Wagner Moura". O comentário deu origem a um massacre virtual dos fãs de Santana contra o humorista. "Rogaram praga pro meu pai morrer, pro meu filho ficar vesgo", conta Mazzeo.

Além da agressividade e falta de humor, Mazzeo também se espantou com a quantidade de erros de português das mensagens que recebeu. "Isso é enveja", escreveram para ele. Cunhou na ocasião um termo muito bom para designar os defensores mais radicais de Luan Santana: "talifãs".

A palavra, como se vê, resulta da fusão de outras duas – "fãs" e "talibã" – e faz referência ao nome de um movimento fundamentalista islâmico, difundido no Afeganistão e Paquistão.

Poucas expressões captam com tanta precisão o radicalismo de certos entusiastas, motivo pelo qual rapidamente o termo passou a ser empregado não apenas para os fãs do jovem cantor, mas também para outras tribos, como a dos fãs de Fiuk, da banda Restart e de Claudia Leitte.

Esta semana, conheci estes últimos, o Talifã de Claudia Leitte. O fato de ter achado muito ruim o show da cantora durante o concurso Miss Universo, na segunda-feira, 12, me fez ouvir a fúria desta tribo.

Um argumento clássico de todo Talifã sem argumento é: "Faz melhor que ela". Entre os mais de mil comentários ao meu texto, li esta frase uma centena de vezes, sempre acompanhada de alguma ofensa. "Seu jornalista de merda, vai lá e tenta fazer melhor que a Claudia Leitte."

Sem saber como defender o seu ponto de vista, o Talifã também costuma concluir que a única explicação possível para uma crítica negativa deve ser o interesse sexual de quem escreve: "Cláudia Leitte estava muito gostosa. E é claro que o Stycer, que é uma bichona louca, iria falar mal dela."

A única arma possível contra os talifãs é rir deles. Veja neste vídeo o humorista Bruno Mazzeo contando como descobriu a fúria da tribo:

[uolmais type="video" ]http://mais.uol.com.br/view/12073293[/uolmais]

 

Em tempo: Alertado pelo leitor Fernando Marés (@roteirodecinema), vi que o termo "talifan" é usado em sites americanos já há alguns anos, com o mesmo sentido. Alguns atribuem ao artista Bob Eggleton a criação do termo, mas outros contestam esta autoria.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.