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“Vilões sem causa” de “Insensato Coração” são tema de discussão na Globo

Mauricio Stycer

11/08/2011 11h19

Convidado pela "Folha" a explicar o sucesso de "Insensato Coração", escrevi um texto sobre os vilões da novela, publicado na edição de 17 de julho da "Ilustrada". Observei que três dos quatro vilões (Leo, Norma e Vinicius) apresentam traços de loucura, por agirem sem que haja justificativa para seus atos.

"Psicopatas dão impulso a sucesso da novela"
(disponível para assinantes do jornal e do UOL), era o título do texto. Descrevendo a trajetória dos três, não há nada que explique as maldades que cometem, observei. Por isso, solicitado a dar uma nota entre "péssimo" e "ótimo", avaliei a novela como "ruim".

No desejo de vingar Leo, Norma causou a morte, direta ou indiretamente, de quatro pessoas e, no fim, se apaixonou novamente por seu algoz. Já Leo, que alimenta um sentimento de ciúmes e inveja pelo irmão, já causou cinco mortes na novela. E Vinicius, desde que foi adotado pelo pai verdadeiro e melhorou de vida, se tornou um verdadeiro diabo.

Somente os gestos de Cortez têm lógica. O vilão é um banqueiro ganancioso e inescrupuloso. O dinheiro é a sua arma para subornar, fraudar, sonegar e, até, matar. Atropela quem ameaça a sua trajetória, o que inclui a própria mulher.

Como mostrei aqui no blog, há uma semana, os quatro vilões, incluindo Cortez, foram responsáveis por uma verdadeira carnificina na novela.

Conclui meu texto na "Ilustrada" assim: Em ritmo vertiginoso, desde que Norma saiu da prisão, a novela acelerou. Sem compromisso com a realidade, mas ajudado por personagens igualmente distantes dela, o folhetim ficou eletrizante. E a audiência subiu.

Em entrevista a "O Globo", no dia 31 de julho, Aguinaldo Silva, autor da próxima novela da Globo, "Fina Estampa", fez uma avaliação semelhante. "Quero falar do cotidiano das pessoas, de gente que estuda, trabalha. Gente comum com problemas típicos do folhetim", disse.

"Quanto mais os personagens forem reconhecíveis, melhor. A novela das 21h anda muito próxima da perversão. As histórias são muito tortuosas, é um mudo irreal e afastado. As novelas estão criando personagens tão extremos que as pessoas não se identificam", completou.

Os autores de "Insensato Coração", Gilberto Braga e Ricardo Linhares, ignoraram, ao menos publicamente, a crítica de Aguinaldo. Mas, uma semana depois, Patrícia Kogut, colunista do "Globo", saiu em defesa da novela das 9.

Ela primeiro observou que o próprio novelista criou uma vilá "perversa", a Nazaré, em "Senhora do Destino". Em seguida, falou do "apreço" dos espectadores pelos vilões. E concluiu dizendo que "no caso de 'Insensato Coração', os melhores índices (de audiência) coincidiram com capítulos que tinham mortes, como as de Araci, Carmem e Clarice".

Aguinaldo respondeu a Patricia no Twitter. Na sua visão, Nazaré tinha motivos para agir como agiu: "Vou dizer a vocês o que torna o vilão um pervertido: é quando ele pratica todo tipo de maldades sem ter uma causa que as justifique. Pois, assim como os heróis da novela, os bons vilões têm uma causa que precisam levar a bom termo".

Concordo com Aguinaldo. Só não usaria o termo "pervertido" pois tem uma conotação moral. Prefiro chamar esses "vilões sem causa" de "psicopatas".

Em tempo: O destino final dos principais vilões de "Insensato Coração" é tema de uma reportagem nesta quinta-feira no UOL Televisão.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.