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Tipos de leitor - o Veja Bem

Mauricio Stycer

19/04/2011 08h00

Conheci este tipo bem antes de frequentar blogs e redes sociais. No dia-a-dia, ele é o sujeito que você enfrenta sempre que precisa resolver um problema técnico, burocrático ou alguma banalidade do cotidiano que está atazanando a sua vida. Se a resposta começa com "veja bem", pode desistir: o seu problema não tem solução.

"Veja bem, consertar o defeito do carrinho é possível. Mas eu não posso garantir que ele vai continuar andando". Ou: "Veja bem, eu entendo o seu ponto de vista, mas você precisa entender o meu. Tem misto-quente e queijo quente, mas não dá pra fazer presunto quente".

Por ser uma expressão da linguagem oral, o Veja Bem não a utiliza tanto nos blogs, mas o seu espírito é facilmente reconhecível. "Entendi o que você quis dizer, mas o problema principal não é esse", começa o comentário. "Vou explicar", prossegue, antes de desfiar todo o seu conhecimento sobre o assunto que ele julga ser o principal.

Muito educado, o Veja Bem tenta consolar o blogueiro ou mostrar o caminho certo que o texto deveria tomar. "Não adianta você ficar pegando no pé do Ronaldo. O problema não é ele. É a estrutura do futebol brasileiro".

Paternal, o Veja Bem trata o blogueiro como alguém que precisa adquirir experiência, conhecimento e tarimba antes de escrever sobre determinados assuntos. "Em matéria de BBB, você é um iniciante", escreveu Boninho, em seu Twitter.

Às vezes, o Veja Bem surge com o objetivo de moderar as confusões. Dirigindo-se a outros leitores, que estão se atacando por causa de algum assunto mais polêmico, ele tenta me socorrer. "Será que vocês não entenderam? O texto do Mauricio não é sobre espiritismo, mas sobre um filme". Nestas horas, só posso dizer: "Veja Bem, muito obrigado".

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.