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Dilma “descongela” a imagem fazendo omelete para Ana Maria Braga

Mauricio Stycer

01/03/2011 12h04

Em processo de construção da sua imagem como presidente, Dilma Rousseff evitou, nestes primeiros 60 dias de governo, o excesso de exposição e o contato com jornalistas brasileiros. Uma operação controlada de "descongelamento" acaba de ter início, com duas entrevistas altamente simbólicas, a Ana Maria Braga e a Hebe Camargo.

A primeira foi exibida na manhã desta terça-feira, na Globo, e a outra será vista daqui a duas semanas, na estreia no novo programa da apresentadora, na RedeTV.

A entrevista com Hebe foi gravada no Palácio do Alvorada, no último dia 24, e incluiu um café da manhã com a presidente, além de um passeio pela residência. A participação no programa de Ana Maria foi gravada depois, no dia 28, no Projac, e exibida um dia depois.

Assim como Hebe e Ana Maria, Dilma enfrentou publicamente o tratamento de um câncer e quis dar a entender, logo no início do programa na Globo, que foi esta a razão que a levou lá.

Ana Maria falou da "honra" de recebê-la, "uma grande honra para mim, para a minha produção, para a Rede Globo e para a família Marinho". Dilma respondeu: "Eu tenho em relação a você só excelentes sentimentos. Porque você foi muito solidária comigo, pessoa. Foi uma demonstração que a gente que passou por processo de doença, que superamos a doença, temos sempre que fazer com os outros. Eu aprendi isso com você. Você foi solidária."

A conversa amena incluiu uma série de VTs com depoimentos elogiosos a Dilma, do ex-marido a crianças de uma escola vizinha a seu apartamento em Porto Alegre, de vizinhos em Brasília a gente nas ruas, em diferentes cidades do país.

A presidente falou da filha e do neto, dos pais, da paixão pelos livros ("até por cheirar livros, o cheiro da página nova"), da dura rotina de "não menos de 12 horas por dia de trabalho", do ex-presidente Lula ("Tem um enorme senso de humor, sabe rir de si mesmo") e da razão de desejar ser chamada de "presidenta" ("uma obrigação com as mulheres deste país").

Discutiu, como era de se esperar, o tema do "machismo", ao tentar desconstruir a imagem de "durona. "É esperado da mulher uma fragilidade", disse. "Eu brinco que  sou uma mulher forte cercada de homens meigos. A mulher em posição de mando é vista um pouco fora de seu papel", observou.

Duas mulheres – Maitê Proença e Marina Silva – foram convidadas a fazer perguntas a Dilma. Atriz do elenco da Globo, apresentada por Ana Maria como "muito inteligente", Maitê causou rumor em agosto do ano passado ao sugerir, em entrevista, que "os machos selvagens" deveriam "nos salvar" da então candidata petista. Marina foi antagonista de Dilma na campanha eleitoral.

Desta vez, fizeram perguntas fáceis, a primeira sobre o "lado ruim" de ser presidente e a segunda sobre a inclusão de mulheres no mercado de trabalho.

O momento mais curioso, mas previamente combinado, foi a ida de Dilma à cozinha para preparar uma omelete. A presidente disse que também sabe fazer sopas e contou que emagreceu "quase seis quilos" nos últimos tempos. Durante a preparação do prato, em meio a conversas sobre os ingredientes,  quis temperá-lo com sal, mas despejou bicarbonato de sódio por engano. Também reclamou: "Tô achando que tá baixo esse fogo". A omelete resultou, visualmente, bem pouco apetitosa, mas Ana Maria a elogiou bastante.

Enquanto Ana Maria a ajudava na frigideira, a presidente fez a defesa do novo salário mínimo e garantiu que o trabalhador vai continuar com o seu poder de compra. Ao final, Dilma agradeceu a apresentadora "pela oportunidade". Muitos outros jornalistas aguardam a sua oportunidade também.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.