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Afinal, o que queremos da televisão?

Mauricio Stycer

12/11/2010 12h48

Com a exibição simultânea das séries "As Cariocas" e "Afinal, o que Querem as Mulheres?", a Globo oferece uma oportunidade interessante de refletir sobre os caminhos possíveis da televisão comercial brasileira. Com temas muito semelhantes, e abordagens radicalmente distintas, as duas comédias convidam o espectador a pensar sobre, afinal, o que queremos da televisão?

Num caminho muito distinto da leveza e do apelo fácil do programa dirigido por Daniel Filho, Luiz Fernando Carvalho sugere um olhar muito mais sofisticado – e difícil – sobre o universo feminino e os seus consagrados clichês.

Os programas de Carvalho ("Os Maias", "Hoje É Dia de Maria",  "A Pedra do Reino") são frequentemente classificados como herméticos, pouco palatáveis para o universo da televisão. Seus críticos costumam expor os números da audiência, normalmente abaixo da média, para comprovar a tese que o trabalho do diretor não cabe numa emissora comercial.

Tenho a impressão, ao contrário, que Carvalho ajuda a mostrar ao público que é possível olhar para a TV de outras maneiras que as consagradas pelo senso comum. Não é uma imposição, mas um convite – não à toa, o programa é exibido em horário tardio, às 23h30.

No primeiro episódio de "Afinal, o que Querem as Mulheres?", somos apresentados ao protagonista, um estudante de psicologia, Andre, dedicado a escrever uma tese em resposta à questão enunciada no título. Atormentado com o trabalho, vê o seu psicanalista virar Freud e não nota que sua namorada está carente de atenção.

Trabalhando com clichês sobre clichês, Luiz Fernando Carvalho extrai humor de um elenco afiado – Michel Melamed, no papel principal, e Paola Oliveira, a artista plástica Lívia, namorada do estudante. Direção de atores, iluminação, enquadramento de câmeras, roteiro (com participação dos escritores João Paulo Cuenca e Cecília Giannetti) – tudo conspira contra o realismo a que estamos habituados na telinha e nos propõe uma nova aventura.

É provável que o fã de "As Cariocas" prefira ver Paola Oliveira como "A Atormentada da Tijuca" do que como Lívia, em "Afinal, o que Querem as Mulheres?". Mas é louvável que o espectador tenha a opção, se quiser, e na mesma emissora, de se divertir de outra forma.

Em tempo: Mais informações sobre o programa podem ser lidas aqui, no UOL Televisão.

Atualizado às 15h37: Como eu imaginava, a nova série teve média de 12 pontos no Ibope ante 16 do reality-show  "A Fazenda", carro-chefe da Record. Mais informações aqui.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.