Afinal, o que queremos da televisão?
Com a exibição simultânea das séries "As Cariocas" e "Afinal, o que Querem as Mulheres?", a Globo oferece uma oportunidade interessante de refletir sobre os caminhos possíveis da televisão comercial brasileira. Com temas muito semelhantes, e abordagens radicalmente distintas, as duas comédias convidam o espectador a pensar sobre, afinal, o que queremos da televisão?
Num caminho muito distinto da leveza e do apelo fácil do programa dirigido por Daniel Filho, Luiz Fernando Carvalho sugere um olhar muito mais sofisticado – e difícil – sobre o universo feminino e os seus consagrados clichês.
Os programas de Carvalho ("Os Maias", "Hoje É Dia de Maria", "A Pedra do Reino") são frequentemente classificados como herméticos, pouco palatáveis para o universo da televisão. Seus críticos costumam expor os números da audiência, normalmente abaixo da média, para comprovar a tese que o trabalho do diretor não cabe numa emissora comercial.
Tenho a impressão, ao contrário, que Carvalho ajuda a mostrar ao público que é possível olhar para a TV de outras maneiras que as consagradas pelo senso comum. Não é uma imposição, mas um convite – não à toa, o programa é exibido em horário tardio, às 23h30.
No primeiro episódio de "Afinal, o que Querem as Mulheres?", somos apresentados ao protagonista, um estudante de psicologia, Andre, dedicado a escrever uma tese em resposta à questão enunciada no título. Atormentado com o trabalho, vê o seu psicanalista virar Freud e não nota que sua namorada está carente de atenção.
Trabalhando com clichês sobre clichês, Luiz Fernando Carvalho extrai humor de um elenco afiado – Michel Melamed, no papel principal, e Paola Oliveira, a artista plástica Lívia, namorada do estudante. Direção de atores, iluminação, enquadramento de câmeras, roteiro (com participação dos escritores João Paulo Cuenca e Cecília Giannetti) – tudo conspira contra o realismo a que estamos habituados na telinha e nos propõe uma nova aventura.
É provável que o fã de "As Cariocas" prefira ver Paola Oliveira como "A Atormentada da Tijuca" do que como Lívia, em "Afinal, o que Querem as Mulheres?". Mas é louvável que o espectador tenha a opção, se quiser, e na mesma emissora, de se divertir de outra forma.
Em tempo: Mais informações sobre o programa podem ser lidas aqui, no UOL Televisão.
Atualizado às 15h37: Como eu imaginava, a nova série teve média de 12 pontos no Ibope ante 16 do reality-show "A Fazenda", carro-chefe da Record. Mais informações aqui.
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