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Onze momentos inesquecíveis, para o bem e o mal, da Rio-2016 na televisão

Mauricio Stycer

23/08/2016 06h01

O balanço a seguir foi escrito a quatro mãos com o colega Rogerio Jovaneli e publicado originalmente no UOL Esporte.

clebermachado1- Quem tem pressa come cru: A vontade de narrar uma medalha de ouro para Isaquias Queiroz era tanta que Cleber Machado acabou cometendo o maior erro de narração nesta Rio-2016. Descrevendo a prova C2-1000 m da canoagem, que tinha a dupla brasileira formada por Isaquias e Erlon de Souza como favorita, ele decretou a medalha de ouro depois de 250 metros. "Os brasileiros tentam uma última arrancada. Os brasileiros vão ganhar medalha de ouro!" Após se dar conta que ainda faltavam 750 metros, Cleber prosseguiu, sem graça. A dupla ficou em segundo.

galvaoneymar22- A "DR" do narrador com o craque: Na condição de narrador, âncora, comentarista e conselheiro da seleção brasileira, Galvão Bueno usou a Globo como plataforma para fazer críticas ao desempenho da equipe nos primeiros jogos. Neymar foi mais atacado por, na condição de capitão, não ter dado entrevistas depois dos jogos. Na sua primeira declaração após a conquista do ouro, o atacante devolveu: "Agora, vão ter que me engolir". O narrador replicou: "Façam o desabafo que quiserem, mas foi muito bom terem dado o ouro olímpico para o Brasil."

gugaglobo23- Somos todos Guga: O slogan da Globo na Rio-2016, "Somos todos olímpicos" poderia ter sido outro, tamanho o impacto da presença de Gustavo Kuerten nas transmissões da emissora. Guga deu show de simpatia e carisma, foi adotado pelos espectadores e tietado por Galvão Bueno. Sua presença cresceu na mesma medida em que o narrador entrou em conflito com Neymar.

glendadaiane24- Muito choro: Uma das apostas da Globo, a apresentadora Glenda Koslowski estreou como narradora da ginástica. Depois de alguns dias, teve que pedir desculpas pelo excesso de gritos e choro nas suas transmissões: "Eu também gritei aqui, peço desculpas ao pessoal de casa se ficou agudo demais. É porque é um momento inesquecível". Outro que não parou de chorar foi Tadeu Schmidt, cujo sobrinho, Bruno, ganhou medalha de ouro no vôlei de praia. No "Fantástico", o choro do tio foi mais importante que a medalha do sobrinho.

5- Audiência despencou: Competindo com Globo e Band, emissoras com mais tradição em cobertura esportiva, a Record foi a grande perdedora dos Jogos. Quando apostou em transmitir os mesmos jogos que os concorrentes, phelpschegou a amargar até quarto lugar no Ibope. E, depois de investir vários dias em ginástica, voltou à programação normal em um domingo e só deu flashes das medalhas de Diego Hypolito e Arthur Nory.

6- Bate-papo com Phelps: Sem estúdio nos Jogos, a Record teve a boa ideia de escalar alguns de seus comentaristas, como Luiza Parente (ginástica) e Ricardinho (vôlei), para acompanharem a passagem de atletas pela chamada "zona mista". Foi lá que Michael Phelps parou para bater um papo com Fernando Scherer, o Xuxa. A entrevista durou apenas dois minutos, mas foi muito festejada pela emissora, especialmente porque o nadador recusou vários pedidos de entrevista da Globo.

neto7- Corneta acesa: Apesar da contratação do experiente Álvaro José, a Band fez uma cobertura sem maiores destaques. Em alguns momentos, como na estreia do futebol feminino, conseguiu superar a Record. O apresentador Milton Neves e o comentarista Neto acabaram atraindo a atenção pelo volume das críticas à seleção brasileira masculina. Depois do ouro, Neto foi "homenageado" pelos principais jogadores da equipe com mensagens "carinhosas" em seu instagram.

8- Voz de especialista: Fato incomum na TV aberta, a Record News apostou em um jornalista analista de futebol na cobertura da Rio-2016. Alexandre Praetzel recheou a transmissão de informações, de história até, além de análise técnica e tática, com um linguajar que fugiu do perfil boleiro de comentar adotado por Globo e Band.

miltonleite9- Proibido para menores: Fazendo a maior cobertura de sua história, com 16 canais, além de um mosaico, o Sportv mostrou tudo, mesmo, da Olimpíada do Rio. Algumas vezes, até o que não desejaria mostrar, como Milton Leite, um dos seus principais narradores, aos palavrões, nas transmissões. O programa "É Campeão", apresentado por André Rizek, com a participação de ex-atletas olímpicos estrangeiros, foi o ponto alto.

romulomendonca210- Mensageiro do caos: Conhecido pela irreverência em suas narrações, mas até então restrito a esportes de nicho (beisebol, futebol americano), Rômulo Mendonça, da ESPN Brasil brilhou na Rio-2016, fazendo jogos de voleibol, com locuções intensas e recheadas de bordões engraçados. Auto-intitulado "Mensageiro do caos", o narrador soltou pérolas como esta, após uma atacante japonesa ser bloqueada pelo time brasileiro: "Aqui não neném, vai caçar Pokémon em Osasco!".

11- Rio virou piada na Fox: Com a proposta de levar humor às suas transmissões, o Fox Sports fez uso dos serviços do popular grupo Porta dos Fundos. "Não vamos chamar de 'assalto'. Nos Jogos do Rio parece que está proibido dizer que o round do boxe é assalto porque pode configurar outro tipo de coisa e confundir as autoridades presentes", arriscou-se Antônio Tabet, líder da trupe, durante narração de uma luta de boxe, uma das poucas vezes que se viu ali o humor ácido do canal de vídeos da internet.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.