Topo

Posição na zona de entrevistas gera disputa entre as emissoras brasileiras

Mauricio Stycer

17/08/2016 08h05

zonamista2O espectador pode não notar, mas ao final de cada disputa esportiva nos Jogos Olímpicos, uma outra luta tem início – a das emissoras de TV por uma entrevista com os atletas. Isso ocorre na chamada "zona mista", uma área delimitada com grades, onde se colocam os profissionais da mídia à espera dos esportistas.

As emissoras donas de direitos de transmissão – Globo, Record e Band – pagam para se posicionar na zona mista. Mas cabe à OBS, a empresa responsável pelas transmissões de TV nos Jogos, a definição do lugar de cada uma na área de entrevistas.

No tênis, por exemplo, a posição número 1 era da Band. Após a derrota de Djokovic para Del Potro, emissora falou com o tenista sérvio antes de qualquer outro canal de TV do mundo. Mas aconteceu, também, de atletas passarem direto pela posição da Band – eles são obrigados a passar por ali, mas só param se quiserem.

Agora, no atletismo, quem conseguiu a posição número 1 foi a Record. Para quem está transmitindo ao vivo, é uma vantagem considerável. Usain Bolt parou para falar com a emissora, assim como Thiago Braz. Poderiam não ter parado, se quisessem.

Empolgada, pelo segundo dia consecutivo, a emissora enviou comunicado à imprensa: "A Record saiu na frente de novo e furou a concorrência ao mostrar a primeira entrevista do brasileiro Thiago Braz após a conquista da medalha de ouro histórica no salto com vara".

O "furo", no jornalismo, é uma notícia exclusiva, obtida por um veículo. Não foi o caso. A Record está apenas fazendo marketing, sugerindo ter conseguido algo especial, quando na verdade o acaso a permitiu falar com um atleta alguns minutos antes de seus concorrentes.

Até entendo o exagero da emissora. Com pouca tradição em cobertura esportiva, a Record tem registrado perdas diárias de audiência por causa da transmissão dos Jogos Olímpicos. E tem desperdiçado bons momentos, como ocorreu domingo (14) na ginástica. Depois de dias seguidos exibindo a modalidade, a emissora optou por voltar à programação normal (Geraldo Luis e Rodrigo Faro) e só exibiu "flash" da dupla vitória brasileira, de Diego Hypolito e Arthur Nory.

Este texto foi publicado originalmente no UOL Esporte.

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.