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Susana Vieira no "Vídeo Show" mostra desespero para dar sobrevida à atração

Mauricio Stycer

26/04/2016 05h01

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Na relação dos 50 programas mais vistos na TV em São Paulo, em março, o "Vídeo Show" aparece em 45º lugar, com média de 9,63 pontos (cada ponto equivale a 69,4 mil domicílios). Excluindo as atrações da Record e do SBT na lista, o "Vídeo Show" foi apenas o 36º melhor programa da Globo em matéria de audiência no mês.

No ar desde 1983, o "Vídeo Show" nasceu como um produto único na TV brasileira. Líder de audiência desde o final dos anos 60, a Globo encontrou na fórmula desta atração um meio eficaz de reforçar a própria marca e a de seus produtos.

O objetivo, como se sabe, é promover a programação da casa – as jóias do passado, as atrações no ar e as futuras. Sempre de um jeito agradável, atenuando o tom publicitário por meio de entretenimento e jornalismo.

Mas quem hoje ainda liga a televisão para ver os bastidores do sua novela preferida? Artistas postam fotos no Instagram, revelam detalhes no Facebook e contam a respeito do que estão fazendo no Twitter.

Com a perda progressiva de audiência da TV aberta, de uma maneira geral, e da Globo, em particular, não dá para evitar esta pergunta incômoda: qual é o sentido de manter na grade um programa autorreferente, que raramente gera conteúdo original, além de não proporcionar faturamento expressivo?

videoshowzeca2Por motivos não explicitados, a emissora vem tentando dar sobrevida ao "Vídeo Show" nos últimos anos.

As duas últimas reformas – ambas radicais – produziram um mesmo efeito interessante: o programa voltou a ser assunto, repercutiu, provocou polêmica, mesmo que os números de audiência não tenham sido os melhores.

Em fins de 2013, sob o comando de Ricardo Waddington, o "Video Show" virou um programa de auditório apresentado por Zeca Camargo. E, em abril de 2015, de volta às mãos de Boninho, ele passou a ser ao vivo, apresentado por Otaviano videoshowmonicaeotafim2Costa e Monica Iozzi. Com a saída desta última, o programa voltou a ser assunto – agora, mais uma vez, por conta de números de audiência decepcionantes e uma apresentadora (Maíra Charken) que não tem agradado tanto.

Na última sexta-feira (22), em um gesto que pareceu de desespero, a Globo anunciou que a atriz Susana Vieira passa a integrar o time do programa. Na véspera, ela havia substituído Maíra na bancada, ajudando o Ibope a alcançar níveis que não registarava havia seis meses.

videoshowmairaotaviano2A presença de Susana vai atrair interesse e render alguns pontinhos no Ibope. Mas por quanto tempo? Qual o sentido de gastar a sua imagem na bancada do programa? Não imagino a atriz por muito tempo na função.

Pensando na trajetória da atração, acho que cabe questionar: por que o "Video Show" ainda está no ar? Esta é uma pergunta de um milhão de dólares.

Reza a lenda que o programa sempre foi a menina dos olhos de José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni. Segundo os defensores desta tese, Boninho teria uma razão emocional para lutar pela sobrevivência da atração.

Outra hipótese citada para explicar a permanência do "Vídeo Show" na grade é mais prosaica: o que colocar no lugar? Alguém tem alguma ideia nova para sugerir? Os fóruns criados para discutir a programação da Globo e sugerir caminhos ainda não deram grande frutos.

Por tudo isso, e mais um pouco, a emissora parece entender que o "Vídeo Show" ainda é útil e cumpre uma função positiva. Mais que isso, é um símbolo daquela época em que a Globo podia ter um programa para falar, sem corar, de si própria. No fundo, reconhecer que não precisa mais do "Video Show" será aceitar que a era de ouro acabou.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.