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Leitor vê incoerência no “CQC Haters”; repórter do programa se explica

Mauricio Stycer

29/04/2015 05h01

cqchaterslucas1Áreas de comentários em sites, blogs ou nas redes sociais se tornaram o espaço para disseminação de preconceitos, ofensas, mentiras e muito ódio. Anônimos ou com a cara exposta, os chamados "haters" não têm medo ou vergonha de expor, com violência verbal, o que pensam a respeito de pessoas que nem conhecem ou de situações que não entendem.

É com o objetivo de confrontar esses comentaristas que o "CQC", da Band, tem apresentado um quadro bastante peculiar, chamado "Haters". O programa busca identificar autores de comentários odiosos e o repórter Lucas Salles tenta entrevistá-los.

Nesta terça-feira (28), recebi um e-mail sobre o quadro. O estudante Lucas Lima me escreveu fazendo uma crítica que julguei muito pertinente à atração. Deixando muito claro que é contra os comentários odiosos, ele escreveu o seguinte:

"À primeira vista achei simpático o quadro 'CQC Haters', porém essa impressão durou pouco. Passei a enxergar o quadro como pouco afeito à liberdade de expressão. Sim, devo admitir que a intenção de surpreender os 'haters' em seu pretenso anonimato é interessante, mas há aí um problema que uma fala do repórter Lucas Salles nesta edição explicitou. Ele disse: 'Você não pode sair por aí dizendo tudo que você pensa, porque o que você pensa pode ser uma merda'.

Ora, a liberdade de expressão abrange tudo que não fira a Constituição e as leis. No caso brasileiro, não se pode incorrer em calúnia, injúria e difamação, bem como fazer apologia ao crime, à violência e ao consumo de drogas ilícitas. Não se enquadrando em nenhuma das práticas citadas, todos têm direito de digitar a merda que quiserem. Um programa com pretensões humorísticas e jornalísticas com certeza não deve ser o lugar de julgar opiniões alheias, correndo o risco de assim equiparar-se aos intolerantes haters."

Procurei o repórter Lucas Salles e mostrei a ele o e-mail de seu xará. Antes de ler a resposta que ele me enviou, veja abaixo o quadro que motivou o protesto do estudante:

Agora, a resposta de Salles:

cqchaterslucas3"Em primeiro lugar, muito obrigado pelo seu ponto de vista! Sua opinião é muito importante para o programa e, principalmente, para mim. De verdade. Irei me explicar agora.

Em segundo lugar, confirmo a frase citada por você. Sim, eu a disse e, nesse momento, afirmo que foi um erro. Ela pode ser muito mau interpretada (e foi!). O erro foi meu. Mais de ninguém. Por isso, agora, peço desculpas 'pessoalmente' por ela. Gostaria de levantar alguns pontos!

Com certeza, eu fui infeliz nesta frase. Mas, o que eu queria dizer, é que antes de falarmos alguma coisa, devemos pensar sobre. Não façam o mesmo que eu fiz ao 'falar essa frase'. Dei o exemplo da pior forma possível! Porém, a minha frase, na maneira em que foi colocada, não dizia a respeito sobre ninguém, nem sobre nenhum caso e nem refletia nenhum pensamento/sentimento meu (preconceito, ódio, raiva). Minha frase foi colocada como uma 'dica'. É claro que é um pensamento meu, mas sem nenhum pré conceito. Usei as palavras erradas? Usei. Isso é um erro? É. Por isso, peço desculpas por ela.

cqchatersfraseO quadro 'Haters', do qual eu me orgulho muito em fazer parte, vai atrás de pessoas que disseminam o seu ódio através de comentários maldosos, preconceituosos e mal intencionados. Muitos, inclusive, vêem isso como uma 'profissão'. Ficam horas atrás de um computador, mandando mensagem de ódio para outras pessoas e, às vezes, hackeam a vítima afim de descobrir seu telefone, sua residência, entre outras coisas.

Tem que haver um limite para isso, sim, Lucas. Isso, sem sombra de dúvidas, é uma merda. E olha que eu pensei antes de falar! Mas não acho nenhuma outra palavra melhor que possa resumir a situação chata que é causada pelos haters! E é por isso que criamos este quadro. Primeiro, para entender o que se passa na cabeça de uma pessoa que faz esse tipo de comentário. Segundo, para conversar com o 'hater' e saber qual finalidade ele queria atingir com o seu comentário. E terceiro, porque achamos importante criamos uma 'consciência' para o nosso público. Onde as pessoas possam ver que, um 'simples comentário', faz uma filha chorar, uma mãe sofrer, um amigo ficar irritado…

Queremos mostrar a lei mais simples do universo: toda ação gera reação. E não é por que você está na internet que você está protegido. Estamos atrás deles, custe o que custar.

Mais uma vez, peço desculpas pela má interpretação da frase. Viva a liberdade de expressão! P.S.: Mas viva também o respeito pelo próximo, né? P.S.2: Não queremos "cagar regra", tá? É mais para mostrar ao público e criarmos essa consciência!"

Os meus parabéns aos dois Lucas. É assim, educada e civilizadamente, que se discute.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.