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“É culpa do autor”, diz Téo Pereira sobre cena “surreal” de “Império”

Mauricio Stycer

17/02/2015 05h01

imperioteoerikaDe forma sutil ou escancarada, autores de telenovela sempre mandam recados e dizem o que pensam sobre determinados assuntos por meio de falas de seus personagens.

Em "Império", Aguinaldo Silva frequentemente recorre a Téo Pereira (Paulo Bétti) para fazer críticas ao jornalismo contemporâneo, especialmente o praticado na internet, bem como para lembrar dos seus tempos de repórter e, ainda, elogiar profissionais que admira ou respeita.

No capítulo desta sábado (14), o autor foi além e colocou na boca de Téo uma crítica à própria novela. Foi, evidentemente, uma brincadeira, mas surpreendente. Deu-se ao final de uma longa cena, na qual o jornalista dialogava com sua assistente, Erika (Leticia Birkheuer).

Por quase três minutos, eles conversaram sobre vários assuntos desimportantes. Teo se disse espantando com os elogios que recebeu por ter feito uma campanha em prol da doação de sangue para Claudio (José Mayer). "A bicha má que ainda existe dentro de mim não gostou nada (dos elogios recebidos)".

Comentaram, também, sobre as fotos que ele roubou do álbum de Cora, elogiando a jovialidade da vilã (uma brincadeira com o fato de Marjorie Estiano ter voltado a fazer a personagem na fase adulta, depois da saída de Drica Moraes). "Eu vou descolar o produto que ela usa para parecer assim tão jovem", disse ele.

Téo, então, perguntou a Érika se ela está recebendo convites para ir a camarotes no Sambódromo durante o Carnaval. Ela disse que poucos. Ele observou: "A mim, ninguém convida". E contou uma história: "Virei figura maldita. Também, quem manda dar nota seis no quesito figurino naquela escola daquele senhor de Nilópolis" (uma referência à Beija Flor). Foi a deixa para emendar outro assunto:

imperioteoerika2"Que saudade que eu tenho dos meus tempos de jurado. Ah… eu sinto até o gosto daquele sanduíche de pernil que serviam", disse. "De porco?", questionou Erika. "Não, de veado mesmo, querida", respondeu o jornalista. "No Carnaval eles proliferam feito capivaras". Ocorreu então o seguinte diálogo:

Erika: Você não acha que essa conversa está ficando meio surreal, não?
Téo: Está. Mas isso é culpa do autor da novela.
Erika: O quê? Não entendi nada.
Téo: Não é para entender, querida. É só seguir o bloco e não pensar em nada. Porque se pensar, bate o ridículo e, então, já era.

A cena termina com Téo cantarolando, errado, um trecho de "Noite dos Mascarados", de Chico Buarque, que diz: "Mas é Carnaval! / Não me diga mais quem é você! / Amanhã tudo volta ao normal".

Como Erika observou, foi realmente uma cena difícil de entender. Não teve utilidade maior na trama e pareceu meramente escrita para preencher espaço, fazer o tempo passar. "Império", como se sabe, teve a sua duração esticada – vai passar de 200 capítulos – e tem exibido muitas cenas como essa. Ao dizer que a culpa é sua, o bem-humorado Aguinaldo Silva faz um saudável exercício de autocrítica.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.