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Com aposta no escracho, "Bastidores do Carnaval" só é bom porque é ruim

Mauricio Stycer

15/02/2015 03h54

BastidoresGeisyMissBumbum
Mostrar Carnaval na televisão é um desafio. É verdade que nenhuma escola de samba é igual a outra, mas o desfile, em São Paulo ou no Rio, é um ritual que tende a ser repetitivo aos olhos de quem está em casa. O mesmo ocorre com o desfile de trios elétricos pelo circuito Barra-Ondina, em Salvador. Ou com shows de música em Recife.

Sem recursos, e sem interesse de competir com Globo, Band e SBT, a RedeTV! oferece anualmente uma alternativa nada ortodoxa a quem se interessa por Carnaval, mas não tem paciência para as transmissões, frequentemente muito corretas, de suas concorrentes.

O "Bastidores do Carnaval", apresentado por Nelson Rubens e Flavia Noronha, aposta no escracho. Em um cenário tosco, com duas bailarinas seminuas sambando por duas horas sem parar, eles comandam uma atração que faz a alegria de um pequeno público, interessado justamente em rir das situações absurdas que o programa mostra.

Como todo ano, os repórteres entrevistam mulheres de pouca ou nenhuma relevância no mundo artístico com um único objetivo: fazer elas mostrarem a pouca fantasia que exibirão na avenida.

BastidoresEquipeEntre ex-panicats, candidatas ao Miss Bumbum e ex-dançarinas do Faustão, eventualmente surge também alguma passista anônima, que dá aquela "sambadinha" para a câmera.

A audiência, ainda que baixa, é fiel, garantindo sempre um pontinho ou mais no Ibope. Este ano, o "Bastidores" sofreu uma baixa de última hora, com a saída de Andressa Urach, mas conseguiu entrevistar uma mulher que se apresentou com sua "melhor amiga".

Além de mostrar muitos bumbuns, o programa está investindo em um time de comentaristas, que debate, no estúdio, a respeito. Ronaldo Ésper, Angela Bismarchi e Leo Aquila avaliam, por exemplo, se determinado "porta-malas", como dizem, é natural ou tem silicone. Também palpitam se o drama da modelo que teve a fantasia furtada é real ou jogada de marketing.

Muito da graça do "Bastidores do Carnaval" vem do fato de que ninguém leva aquilo muito a sério. Eu diria que todos – tanto os que fazem quanto os que assistem – sabem que o programa só é bom porque é ruim.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.