Problema de Cora não é a nova atriz, mas o rumo confuso da vilã em Império
Brevemente apresentada no capítulo de sábado (06), a nova Cora, rejuvenescida, começou a dizer a que veio nesta segunda-feira (08). Contracenando com Alexandre Nero, Marjorie Estiano teve direito a um longo monólogo na cena de abertura do capítulo.
Era uma sequência muito esperada – o momento em que o comendador José Alfredo iria tirar a virgindade da vilã para, em troca, recuperar o seu sonhado diamante cor de rosa. Cora se "guardou" por décadas para aquele momento.
A situação, absurda em si, exigiria muito de qualquer atriz. Marjorie Estiano, que substituiu Drica Moraes às pressas na última sexta-feira, adotou um tom grave, dramático, deixando claro que aquele era talvez o momento mais esperado da vida da personagem.
Aguinaldo Silva colocou na boca do personagem de Nero algumas frases enigmáticas, no esforço de explicar melhor ao espectador a troca de atrizes e, também, deixar em aberto novas possibilidades para o futuro. "Cora, ou seja lá o diabo que você for", diz o comendador depois de se refazer do susto de ver a vilã tão mais jovem.
"É a Cora mas não é", ele diz ao motorista Josué (Roberto Birindelli), tão surpreso quanto o patrão. "Parece que vai virar a Cora que você conheceu, aquela bruxa".
Achei convincente a estreia da atriz na pele de uma personagem 20 anos mais velha. Aliás, não vejo problemas nesta substituição. É verdade que Aguinaldo Silva poderia matar a personagem, mas a solução da troca de atrizes, ainda mais tendo a oportunidade de escalar justamente a profissional que viveu Cora na primeira fase, não atrapalha em nada, na minha opinião, o andamento da novela.
O problema é outro. Desde a divulgação da sinopse de "Império", sempre houve motivos para acreditar que a vilã Cora iria roubar a cena e ser a grande personagem da novela.
Figura sinistra e soturna, manipuladora e invejosa, capaz de prejudicar a própria irmã, Cora impressionou muito no prólogo. Tudo indicava que a vilã iria decolar e roubar a cena na fase contemporânea da história. E isso não aconteceu
Cora se tornou um tipo difícil de entender. Não que seja ambígua, uma característica interessante num vilão, mas sim irregular. Como se o autor tivesse dúvidas sobre que caminho seguir com a personagem.
Na sua obsessão pelo comendador José Alfredo, Cora era de uma fria objetividade, até se descobrir que, na verdade, fez tudo por uma paixão reprimida por ele. Cruel, foi capaz de cometer um assassinato, mas ao mesmo tempo é desenhada como uma figura ridícula, que cheira cuecas alheias e solta gases depois de beber champanhe.
Como bem observou Nilson Xavier no início de setembro, há algo de Perpétua (Joana Fomm), a beata falsa moralista de "Tieta", na Cora de "Império".
Mas a caricatura de vilã na novela de 1989 não combina muito com a história de 2014. É esse ruído permanente, entre a personagem má e decidida, por um lado, e a "bruxa" de desenho animado, por outro, que atrapalha Cora e confunde o espectador.
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