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Protesto contra “Sexo e as Negas” lembra sátira de “Tá no Ar”

Mauricio Stycer

11/09/2014 16h16


Está produzindo relativo barulho uma campanha intitulada "Boicote Nacional ao programa 'Sexo e as negas' da Rede Globo". Com cerca de 20 mil "curtidas" no Facebook, o movimento propõe "criar uma mobilização nacional contra o programa" e "refletir sobre a representação da mulher negra na tv".

Espanta ver que uma proposta tão drástica possa se basear em dois elementos precários – o título da série e a chamada de um minuto que a emissora tem veiculado para promover a estreia na próxima terça-feira (16).

Ou seja, trata-se de uma campanha contra um programa que ainda não foi ar. Como é possível, com base apenas nestes dois elementos (o título e a chamada), chegar a um diagnóstico tão duro?

O movimento feminista e a militância em defesa da igualdade racial têm motivos de sobra para questionar a Globo com base em programas e atitudes da emissora ao longo da história. Compreendo. Da mesma forma, apoio integralmente a luta contra o racismo, bem como o combate aos preconceitos com base em sexo.

Mas boicotar um programa ainda não exibido? Não compreendo. O título da série foi uma má escolha? Talvez. Mas não é necessário ver primeiro o programa para ter certeza disso?

Não vou nem discutir as justificativas de Miguel Falabella para a escolha do título ou a sua visão sobre como a série que criou cumprirá um papel exatamente oposto ao que o movimento que pede o seu boicote entende. Não vou fazer isso porque, realmente, tenho dificuldades em aceitar que esta discussão esteja ocorrendo ANTES que o programa seja visto.

A campanha parece levar a sério a sátira que Marcelo Adnet fez dos críticos da Globo na primeira temporada do humorístico "Tá no Ar". Como diria o seu bordão, "é inadmissível a Rede Globo exibir um programa chamado 'Sexo e as Negas'!!!"

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.