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Para explicar ódio de Josiane por mãe, Walcyr cita "moça que matou os pais"

Mauricio Stycer

25/08/2019 05h05

Maria da Paz (Juliana Paes) ouve o diagnóstico que a filha é psicopata

Walcyr Carrasco esperou "A Dona do Pedaço" chegar ao capítulo 84 para explicar um dos grandes mistérios da novela: por que Josiane (Agatha Moreira) odeia tanta sua mãe?

Como sabemos, Maria da Paz (Juliana Paes) criou a filha a base de pão de ló, com direito a tudo de melhor, mas a menina sempre teve restrições a ela. Reclamava que sofreu bullying na escola por ser filha de uma boleira. Achava a mãe brega, cafona. Nunca se conformou de ser chamada de Josiane; queria ser conhecida como Jô. Reclamava da mesada recebida. Sonhava ser uma princesa, mas era apenas uma menina rica e mimada.

Fomos obrigados a aceitar que estes motivos explicariam as atitudes que a jovem tomou nos últimos 60 capítulos. Resumidamente, a filha destruiu a mãe. Primeiro, roubou-a de todos os jeitos. Depois, fez o seu namorado, Regis (Reynaldo Gianecchini), seduzi-la e casar com ela. Convenceu-a a se endividar para comprar uma mansão. Conseguiu colocar o imóvel no seu nome. Também fez a mãe transferir a fábrica de bolos para o seu nome. Quando a mãe suspeitou que havia alguma coisa errada, foi expulsa pela filha de casa e da fábrica.

Reclamei várias vezes da falta de explicação para este ódio da filha pela mãe. Muitos espectadores se perguntaram por que Josiane maltratava tanto Maria da Paz. Até o "Fantástico" fez matéria tentando explicar este ódio exacerbado.

No sábado (24), finalmente, Walcyr Carrasco resolveu explicar. Escolheu a solução mais fácil, preguiçosa e rocambolesca que havia. Josiane é psicopata – e psicopatas não têm sentimentos. Para tornar a coisa ainda mais ridícula, o diagnóstico foi feito por Linda (Rosamaria Murtinho), a desocupada mãe de Beatriz (Natalia do Vale). Como assim? O autor nos informou agora que ela é uma professora com pós-graduação em psicologia.

"A Marlene (Suely Franco) disse que você é capaz de entender o que a minha filha tem", falou Maria da Paz. "Bom, eu fiz pós-graduação em psicologia. Nunca exerci. Mas quando a Marlene me falou da sua filha, Maria da Paz, eu cheguei a uma conclusão", respondeu Linda. Houve então o seguinte diálogo:

"Tudo leva a crer que ela é uma psicopata", diz Linda (Rosamaria Murtinho)

Maria da Paz: Pode falar, eu aguento.
Linda: Pra mim é óbvio: a sua filha tem uma doença mental.
Maria da Paz: Doença mental?
Linda: Eu não me atrevo a fazer um diagnóstico direto assim, mas tudo leva a crer que ela é uma psicopata, Maria da Paz.
Maria da Paz: Psicopata? Você tá querendo dizer que a minha filha é doente? Tem uma doença?
Linda: Tudo indica que ela não tem sentimentos, ela não tem empatia pela dor dos outros.
Maria da Paz: Isso parece que não tem mesmo.
Evelina (Nívea Maria): É verdade. Em várias ocasiões ela não demonstrou nenhum sentimento com a morte de alguns familiares.

Além de optar pela solução mais fácil, a que não precisa de maiores construções do personagem, Walcyr também buscou dar alguma referência ao espectador e recorreu ao caso de Suzane Von Richthofen, a jovem de família rica que encomendou a morte dos pais ao namorado e ao irmão dele, em 2002.

A lembrança ocorreu na continuação da cena em que a boleira descobriu que a filha é psicopata. "Vejam só o caso daquela moça aqui em São Paulo que matou os pais", disse Marlene. Veja o diálogo:

Maria da Paz: Mas eu pensei que psicopata fosse, não sei, esses serial killers…
Linda: Há vários níveis de psicopata. A maioria são homens. Nas mulheres costuma ser mais fraco. Mas existem. A Marlene me disse que a sua filha…
Maria da Paz: Tomou a minha fábrica? Tomou.
Linda: Mas assim? Na frieza? Sem demonstrar nenhum afeto por você? Sem remorso?
Maria da Paz: Sem afeto, sem sentimentos e sem remorso. E ainda disse pra mim, com muita frieza, que tava tendo um caso com meu marido. Eu sinto vergonha porque eu fui burra, me sinto muito burra, muito idiota. Como pode eu não ter percebido? Eu não ter visto esse caráter da minha filha?
Marlene: Você não é burra. Eu já disse isso pra você. É que as mães têm uma certa dificuldade de ver as coisas ruins dos filhos. Vejam só o caso daquela moça aqui em São Paulo que matou os pais. Você acha que os pais teriam percebido que ela poderia uma coisa dessas?
Linda: Nunca. Mesmo porque os filhos podem ser dissimulados. É difícil.

Por fim, a personagem que fez pós-graduação em psicologia, mas nunca trabalhou na área, deu ainda algumas lições à boleira sobre o problema da filha:

Maria da Paz: Mas tem cura?
Linda: Maria da Paz, acredita-se que o psicopata é um problema biológico. Mas você não deve perder as esperanças.
Maria da Paz: Ela é mau caráter. Mas, seja lá o que for, a culpa é minha. Fui eu que errei na educação dela. E ela vai aprender. Vai aprender comigo.
Linda: Ela tem que aprender a respeitar os outros. Pra mim dizer alguma coisa está sendo difícil porque eu estudei, mas não exerço. Então, só quero ajudar.
Maria da Paz: Certo. Já entendi. Mas agora Josiane não me pega mais na curva. Eu é que vou pegar ela.

Walcyr nega que personagem seja inspirada em Richthofen

Cinco dias depois da exibição deste capítulo, Walcyr Carrasco falou ao programa "TV Fama", da RedeTV!, que não se inspirou em Suzane von Richtofen para criar Josiane (Agatha Moreira). "Não foi. As pessoas que tem esse tipo de comportamento são muitas. O caso da Suzane é conhecido, mas nós temos muitos casos, inclusive um amigo meu, que um irmão gêmeo dele roubou o pai e fugiu com o dinheiro. São histórias que acontecem, lamentavelmente", disse ele. Veja abaixo:

Alguém sabe dizer por que Josiane odeia tanto a mãe?

Observação: O título original deste texto ("Para explicar ódio de Josiane pela mãe, Walcyr lembra do caso Richtoffen") foi alterado depois que o autor da novela negou esta associação em entrevista.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.