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Sem aceitar média de 1 ponto, Justus culpa o Ibope por fracasso do Aprendiz

Mauricio Stycer

27/05/2019 05h01

Roberto Justus fez carreira, fama e fortuna como publicitário. Foi, por anos, um nome respeitado neste mercado. Dono de agência, planejou e implantou milhares de campanhas publicitárias com base, entre outros parâmetros, nos números de audiência da TV aberta medidos pelo Ibope.

Estes mesmos números também ajudaram a balizar a sua carreira na televisão, para o bem e para o mal. O sucesso, inicial, como apresentador de "O Aprendiz" (2004-09), na Record, deu impulso a outros trabalhos. Não por acaso chamou a atenção de Silvio Santos e virou apresentador de game shows no SBT (2009-11).

No seu retorno à Record, em 2013, retomou o "Aprendiz", mas os números do Ibope sinalizaram que, talvez, a fórmula estivesse começando a se esgotar. A sua trajetória à frente da "Fazenda" (2015-17) e do "Power Couple" (2016-17) também foi acompanhada, passo a passo, pelos medidores de audiência.

Em todos estes anos, Justus teve altos e baixos em matéria de Ibope, mas nunca um resultado tão frustrante quanto o registrado pelo retorno de "O Aprendiz" na Band, em março de 2019. Até agora, a atração não consegue aparecer nem entre as dez mais vistas da emissora.

Nas primeiras nove semanas, o programa registrou média de 0,8 ponto no PNT (Painel Nacional de Televisão), que mede a audiência de 15 grandes centros urbanos. Isso significa cerca de 200 mil domicílios, ou 555 mil pessoas, assistindo ao "Aprendiz", de Porto Alegre a Manaus. passando por São Paulo, Belo Horizonte e Rio, entre outros.

Diante da expectativa e dos investimentos feitos, este resultado, sem eufemismos, só pode ser classificado como um grande fracasso. Infelizmente.

Neste domingo (26), em entrevista ao repórter Bruno B. Soraggi, da coluna de Monica Bergamo, na Folha, Justus fez um ataque despropositado ao Ibope. Disse ele:

"Eu questiono um pouco esse negócio de Ibope. Dou um terreno no centro de Tóquio, que é o mais caro do mundo, pra quem me apresentar alguém que tenha o peoplemeter em casa [aparelho da Kantar Ibope que mede audiência na TV]. Eu nunca conheci. 'Ah, mas, por contrato, eles [domicílios escolhidos] não podem falar'. Mas você descobriria, né? Não estou dizendo que o Ibope é furado. Nem quero deixar polêmica. Só falo que não corresponde à repercussão que 'O Aprendiz' tem. As pessoas estão vendo, comentando. É tão forte na rede social que é quase impossível imaginar que ele só tenha isso de audiência."

Primeiro, não é verdade que nunca foi mostrado uma família que tenha o aparelho medidor de audiência. Em 2012, por exemplo, os jornalistas Ricardo Feltrin e Marcio Neves fizeram uma reportagem, publicada no site f5, com uma família que tinha o aparelho em casa.

Segundo, soa infantil um profissional com a experiência de Justus confundir repercussão no Twitter com números de audiência na TV. Terceiro, e mais grave, é espantoso ele colocar o sistema como um todo em dúvida só porque o seu programa não deu certo.

Como se diz, ironizando uma frase famosa, o fracasso subiu à cabeça de Justus.

Justus diz que foi uma brincadeira

Em contato com o blog, Roberto Justus disse que o comentário que fez sobre o Ibope durante uma entrevista à Folha ocorreu em tom de brincadeira. "Estava rindo quando falei", disse. O apresentador de "O Aprendiz" reconhece que esta edição do programa "não foi um sucesso", mas garante que não duvida do trabalho do Ibope. Ele reitera que o programa está tendo ótima repercussão nas redes sociais.

Procurado, o repórter Bruno B. Soraggi disse que o comentário de Justus não foi feito em meio a risadas.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.