Luciana opta por conversa amena, perguntas fáceis e elogios a Bolsonaro
Luciana Gimenez não é jornalista, nem pretende ser. É apresentadora de dois programas, um de entretenimento popular, o "Superpop", e um de entrevistas, um pouco mais sério, "Luciana By Night", ambos exibidos na RedeTV!.
Entre 2010 e 2018, Jair Bolsonaro participou 11 vezes do "Superpop". Tamanha frequência se explica pela simpatia mútua e pelo bem que um fez pelo outro – as polêmicas em que o então deputado federal se envolveu ajudaram a popularizar a sua figura e impulsionaram a audiência do programa.
Em abril deste ano, Luciana representou a RedeTV! num café da manhã oferecido pelo presidente a 15 profissionais da mídia e o elogiou publicamente, afirmando que muitas das frases ditas no "Superpop" foram distorcidas. "Não tô querendo defender, mas muitas das coisas que ele falou foram tiradas de contexto".
A longa entrevista que Bolsonaro concedeu a Luciana, exibida na noite desta terça-feira (7) em seu talk show, deve ser entendida neste contexto geral dos últimos dez anos. Foi uma conversa amena, com duração de 52 minutos, ao longo da qual a apresentadora fez mais elogios do que perguntas. Deixou o presidente falar à vontade, não o questionou seriamente sobre nenhum assunto e terminou presenteando-o com uma camisa do Palmeiras.
A troca de elogios se estendeu até as muitas participações de Bolsonaro no "Superpop". "A gente se divertia", disse Luciana. "Tinha muita liberdade no seu programa; agradeço a você", respondeu ele.
Para quem é fã de Bolsonaro, o programa foi dos mais agradáveis. Foi possível ver o presidente descontraído, falando de sua rotina no trabalho, da relação com a mulher, com a filha caçula, os filhos e a mãe. Também teve a chance de fazer bastante propaganda do seu governo, enaltecendo as próprias medidas que tomou e os planos que pretende adotar.
Para quem esperava alguma revelação, opinião original, crítica, autocrítica ou mesmo informação inédita, foi uma decepção. Nada de novo. Elogiou os militares que atuam em seu governo, mas observou que falta "tato político" a eles. Voltou a criticar políticos de esquerda. Disse que não perdoa o homem que o esfaqueou. E, mais uma vez, negou que seja racista, homofóbico e machista. "No Brasil é coisa rara o racismo", afirmou. "É, isso não cola muito", respondeu a apresentadora.
Luciana não replicou respostas, não apontou contradições, não fez qualquer reparo às falas de Bolsonaro. Também evitou lembrar dos muitos problemas destes primeiros quatro meses de governo e demonstrou concordar com tudo que o presidente falou e propôs.
A entrevista lembrou, no tom, a que Silvio Santos fez e exibiu no último domingo (05). O dono do SBT, que também não é jornalista, tratou Bolsonaro como amigo ao longo de 31 minutos de conversa. Ainda assim, fez uma crítica à postura do presidente em relação ao porte de armas ("vai virar faroeste") e ironizou algumas de suas observações, entre as quais a de que não usa "aditivo".
Luciana não fugiu ao perfil que costuma adotar com outros entrevistados. Mas, ao preferir a postura da conversa agradável com o presidente da República, passou a impressão de viver no mundo da lua, alheia à realidade do país. A audiência do programa, segundo números prévios do Ibope, ficou em 1,9 ponto em São Paulo, dentro da sua média.
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