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Minissérie da Globo tem embalagem ambiciosa, mas transborda artificialidade

Mauricio Stycer

22/04/2019 15h03

Debora Falabella (Isabel) é uma das protagonistas de "Se Eu Fechar os Olhos Agora"

Há alguns anos a Globo vem exibindo em janeiro uma minissérie de qualidade. A lista inclui "O Brado Retumbante" (2012), "O Canto da Sereia" (2013), "Amores Roubados" (2014), "Felizes para Sempre?" (2015), "Ligações Perigosas" (2016), "Dois Irmãos" (2017) e "Treze Dias Longe do Sol" (2018).

Em 2019, excepcionalmente, a emissora optou por guardar a sua minissérie para depois do "BBB19". A razão não foi explicada, mas pode ter sido devido a alguma questão contratual. "Se Eu Fechar os Olhos Agora", lançada na terceira semana de abril, foi veiculada originalmente para assinantes do Now (Claro e Net), em agosto de 2018, por R$ 29,90.

Em todo caso, também suspeito que tenha faltado confiança da Globo no produto. "Se Eu Fechar os Olhos Agora" tem embalagem ambiciosa, mas transborda uma artificialidade que pode afugentar um espectador mais distraído ou cansado no fim de noite.

Adaptação de Ricardo Linhares de um romance de Edney Silvestre, a minissérie se passa na fictícia São Miguel, uma pequena cidade no interior do Estado do Rio, no início dos anos 1960.

A história gira em torno do assassinato da jovem Anita (Thainá Duarte) e as conexões dela com vários personagens que não são exatamente o que parecem. Os meninos Paulo (João Gabriel D'Aleluia) e Eduardo (Xande Valois), que encontram o corpo na margem de um lago, são os protagonistas. Curiosos, eles agem como mini-detetives, investigando o crime.

A história é das mais interessantes, com desdobramentos que envolvem racismo, intolerância religiosa e direitos das mulheres. O elenco é de primeira, com Murilo Benício, Debora Falabella, Mariana Ximenes, Gabriel Braga Nunes, Renato Borghi (!), Antonio Fagundes, Jonas Bloch e um quase irreconhecível Paulo Rocha.

O que poderia ser um drama com algum suspense e enigma ganhou ares de filme "noir" por opção do diretor Carlos Manga Jr. Muito neon, imagens escuras, marcações de cena muito teatrais, mulheres fatais e um texto falado com pouca espontaneidade marcam a produção. No esforço de reforçar o clima de suspense, muitas vezes a direção deixa a série com cara de publicidade.

Os números de audiência dos primeiros episódios são regulares. A minissérie estreou com média de 21,7 pontos em São Paulo na segunda-feira (15) e registrou 18,6 na sexta (19). A média dos quatro episódios exibidos é de 18,75 pontos, um pouco abaixo do resultado do "BBB19" (20,2 pontos), que a precedeu.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.