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Multishow volta atrás e inclui piada “homofóbica” em episódio de Chapolin

Mauricio Stycer

18/04/2019 10h21

O Multishow apresentou nesta quarta-feira (17) uma nova dublagem para um episódio de "Chapolin", exibido pela primeira vez no canal em maio de 2018 com uma fala censurada. A mudança buscou agradar os fãs, que haviam ficado chocados e protestaram contra a versão exibida no ano passado.

Na época, a direção do canal entendeu que o episódio continha uma piada de cunho homofóbico e decidiu alterá-la. Na história, chamada "O Descobrimento da Tribo Perdida" e gravada em 1973, a personagem interpretada por Maria Antonieta de las Nieves se irrita com o herói e sentencia: "Era melhor ter chamado o Batman no lugar do Chapolin Colorado!". Ele se revolta e diz: "Em primeiro lugar, Batman não está porque viajou em lua de mel com Robin".

Na versão exibida em maio de 2018, Chapolin disse: "Batman não pôde vir porque furou o pneu do Batmóvel".

Conforme registrou na ocasião o repórter Paulo Pacheco, do UOL, a direção do Multishow reconheceu que a censura foi um erro. Disse então Tatiana Costa, diretora de programação e conteúdo digital do canal: "Erramos nesse caso, mas ainda erraremos muito. E que bom, porque é vivo, é uma troca, não é uma decisão única, unilateral, enfiada goela abaixo. Estamos aqui para ouvir, discutir juntos e ajustar. Somos fãs também e sabemos que ainda teremos muitas batalhas pela frente".

Ela explicou assim a decisão: "Existe, por trás, obviamente, um cunho homofóbico, uma coisa mais machista. Entendemos que era uma piada preconceituosa. Lá atrás, nos anos 70 e 80, era considerada normal, mas felizmente hoje não é mais aceitável. Você não diria isso para o seu filho, estamos em um outro momento da vida. Tentamos suavizar isso", justificou.

Na época da censura, escrevi: Ora, se o Multishow considera que "Chaves" e "Chapolin" contêm piadas homofóbicas, não deveria ter comprado os direitos da série. Ou poderia exibir uma advertência, como a Warner passou a fazer com "Tom & Jerry": "Os desenhos que você verá são produto de sua época. E não representam a visão que temos hoje da sociedade". Algo assim. Mas mudar o texto da série é uma prepotência assustadora.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.