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Ser apresentador não pode ser cargo vitalício; é bom testar novos nomes

Mauricio Stycer

17/11/2018 15h20


Tanto no mundo do entretenimento quanto no jornalismo, ser escalado para a função de apresentador é alcançar o topo da carreira, o Himalaia da glória. Não à toa, todo mundo quer.

Na área da diversão e do esporte, ao se tornar a cara da emissora num determinado horário, o (a) escolhido (a) passa a usufruir de inúmeras vantagens materiais, derivadas das diversas possibilidades comerciais que surgem. No campo da notícia, ainda é vedado fazer merchandising, mas o status superior da posição, na comparação com qualquer outra, se traduz em benefícios dos mais variados.

É fácil comprovar o que eu disse no primeiro parágrafo. Basta observar que, em qualquer das áreas da televisão, uma característica une todos os apresentadores – uma vez que a pessoa chegou lá, não quer mais sair de jeito nenhum.

Por isso tudo, me permito fazer algo raro: discordar do colega Chico Barney, que lamentou em seu blog o fato de a Globo estar desvalorizando o cargo de apresentador. Escreveu ele: "Não há mais a necessidade de desenvolvimento de uma carreira em torno da função, aproveitando talentos da própria casa em momentos pontuais ao longo das temporadas".

Ligeiramente escandalizado, Barney lamentou: "Alguns dos principais títulos da atual linha de shows não são conduzidos por apresentadores profissionais. Em sua maioria, atores colocados para trabalhar entre uma novela e outra."

Ora, vejo de forma muito positiva esta atitude. Já registrei no UOL Vê TV que um dos problemas da televisão brasileira é justamente a falta de renovação neste campo – pelo menos dez apresentadores estão no ar há mais de 25 anos.

Testar atores ou jornalistas nesta função, como a Globo tem feito, é muito positivo. Sinaliza, justamente, que ser apresentador não pode ser cargo vitalício ou ter estabilidade perpétua. É bom mudar.

Experiências mais ou menos recentes na Globo com Fernanda Gentil ("Esporte Espetacular"), Fernanda Souza e Luan Santana ("Só Toca Pop"), Taís Araújo ("Popstar"), Lázaro Ramos ("Os Melhores Anos das Nossas Vidas"), Sophia Abrahão e Joaquim Lopes ("Vídeo Show"), entre outras, são altamente válidas. É verdade que alguns destes programas não emplacaram ou vão mal das pernas, mas a culpa não é (só) de quem comanda.

Não gosto justamente da ideia de "apresentador profissional". Há casos, realmente, de figuras nascidas para isso, mas estes são uma minoria. Não vou citar nomes aqui, mas hoje em atividade eu não vejo mais do que cinco ou dez apresentadores de fato excepcionais, que demonstram uma vocação extraordinária para a função. Há outros muito bons, mas que não deixariam maior saudade se dessem lugar a figuras menos experientes.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.