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A televisão no governo Bolsonaro: o que esperar

Mauricio Stycer

02/11/2018 07h01

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A eleição de Jair Bolsonaro, por tudo que representa em termos de mudança na política brasileira, traz junto a expectativa de muitas novidades nos mais variados campos. Ainda que não tenha sido um assunto muito discutido na campanha eleitoral, a televisão certamente será afetada pela chegada ao poder de um grupo político sem vínculos com os partidos (PSDB e PT) que ocuparam o Planalto nos últimos 24 anos. Quatro assuntos a acompanhar:

Na sua primeira entrevista, o presidente eleito anunciou a intenção de "privatizar ou extinguir" a TV Brasil, criada em 2007 no segundo governo Lula. Bolsonaro mencionou que o canal "tem traço de audiência" e disse que ele tem um custo anual de R$ 1 bilhão (este valor é exagerado, afirma a Agência Lupa). O tema é importante e espero que mereça uma análise cuidadosa, que vá além deste comentário, no novo governo.

O papel que a TV Record terá num governo Bolsonaro também é motivo de especulação. Nesta mesma entrevista, o próximo presidente do país elogiou "o jornalismo isento" da emissora, uma deferência que não fez a nenhum outro canal. Ainda que tenha se beneficiado de acesso privilegiado a Bolsonaro, a Record está preocupada em ficar com a imagem de "TV oficial". Em nota, rejeitou as críticas e afirmou: "Não aceitamos os ataques covardes à nossa conduta pautada numa só direção: jornalismo imparcial a serviço dos brasileiros".

A pauta conservadora defendida por Bolsonaro durante a campanha, em defesa "da família brasileira, que tanto clama para que seus valores sejam respeitados", terá efeitos sobre a programação de TV? Esta é uma questão interessante, a ser observada de perto. Um primeiro sinal de alerta foi aceso na estreia da 11ª temporada de "Amor & Sexo". O programa da Globo está registrando os seus números de audiência mais baixos. Está ocorrendo boicote ou é sinal de uma fórmula cansada?

Outro assunto importante, entre tantos, é o da regulamentação dos serviços de vídeo por demanda, ou streaming (Netflix). Há possibilidade de a questão ganhar uma primeira legislação ainda neste final do governo Temer, mas seguramente terá que ser enfrentado pelo próximo presidente. Temas como a obrigação, ou não, de cotas para a produção brasileira, tal como existe na TV paga, deverão ser discutidos proximamente.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.