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Como foi a negociação que levou o “Choque de Cultura” aos domingos da Globo

Mauricio Stycer

01/10/2018 05h01

Caíto Manier, Raul Chequer, Leandro Ramos e Daniel Furlan no episódio de estreia do "Choque de Cultura" na Globo

A Globo estreou neste domingo (30), sem aviso prévio, um novo programa de humor, "Choque de Cultura". Trata-se, sem muitas modificações, de uma atração muito popular no You Tube, protagonizada pelos humoristas Caíto Manier, Daniel Furlan, Leandro Ramos e Raul Chequer.

Os quatro interpretam motoristas de van participando de engraçadíssimos debates sobre filmes ou séries de TV. Na Globo, os comentários serão vistos após a exibição do filme da sessão dominical vespertina Temperatura Máxima. Na estreia, o quarteto debateu "A Era do Gelo 4", em especial o papel de Marcio Garcia como um dos dubladores do filme.

A estreia do "Choque de Cultura" na Globo ocorre dias depois do anúncio de que Marcius Melhem assumiu o comando de todos os programas de humor da emissora. Subordinado a Silvio de Abreu, o criador do "Tá no Ar" e do novo "Zorra" agora tem a responsabilidade de "estruturar um processo de desenvolvimento permanente de uma carteira de projetos que possam circular por todas as plataformas". Também cabe a Melhem "apoiar os demais gêneros no acompanhamento e avaliação dos conteúdos de humor".

Em conversa com o blog, o novo chefe do humor da Globo conta que a contratação do "Choque de Cultura" estava sendo "costurada há meses" e, "por coincidência" estreou logo na semana seguinte ao convite para assumir o novo cargo.

Melhem conta que, nas conversas com os humoristas, "a preocupação maior era manter o DNA deles, com a liberdade criativa que levou os caras a serem um fenômeno na internet". A partir daí, "a gente identificou que o formato deles cabia bem pra fazer uma experiência colando no filme".

Com apoio da direção da emissora, que gostou da ideia, Melhem e Daniela Ocampo, roteirista da Globo, deram carta branca ao quarteto: "Quanto a restrições, só uma palavra ou outra por ser domingo de tarde. Mas não tem nenhuma restrição de tema, nada. Eles já se encaixavam ali. Se não, colocaríamos nos filmes da noite", diz Melhem.

Em conversa com o blog, Daniel Furlan confirma: "O Marcius Melhem e a Dani Ocampo chamaram a gente pra conversar, garantiram que o programa se manteria com liberdade e fiel ao seu estilo, tanto no texto quanto no visual", diz. "A mesma equipe de sempre (nós da TV Quase) escrevendo, atuando, dirigindo e acompanhando edição", prossegue. "E foi isso. Depois eles libertaram nossas famílias e nós entramos num helicóptero de ouro (essa parte é mentira)", acrescenta.

O acerto com o "Choque de Cultura" é por dez domingos, até 2 de dezembro. "Não é teste, não", diz Melhem. "Mas a negociação, até por agenda deles, envolveu a princípio uma temporada. Mas continuamos conversando", conta. "A Globo topou o risco de exibir um produto novo, num formato novo, num horário novo, e sem divulgação", diz.

Furlan não teme a crítica de fãs mais antigos, de que o grupo "se vendeu" para a Globo. "Quando paramos de fazer quadrinhos para virar a TV Quase na internet, disseram que nos vendemos. Quando fomos pra MTV (onde fizeram ´O Último Programa do Mundo´) disseram que nos vendemos. A minha conclusão é que nosso objetivo sempre foi nos vender. E vão ter que engolir a TV Quase, rumo a Tóquio", diz o humorista.

E acrescenta: "O programa foi todo escrito, atuado, dirigido e editado como sempre foi, então se alguém não gostou a culpa é nossa, e não de onde o programa está, seja na Globo ou na TV Quase. Mas a reação foi muito positiva, #1 nos trending topics do Twitter etc. Se alguém não gostou sem ver, não sei se tem muito o que dizer. Particularmente acho que fizemos alguns dos melhores episódios desde a criação do programa".

Por fim, Furlan lembra que esta não é a primeira parceria externa que a TV Quase faz. A produtora já realizou "O Último Programa do Mundo" (MTV e Fox), "Irmão do Jorel" (Cartoon Network), "Falha de Cobertura (revista Piauí, SporTV e UOL), "Décimo Andar "(canal Brasil) e o próprio "Choque de Cultura" (Omelete) com parceiros.

"E agora na Globo, onde pela primeira vez temos a oportunidade de levar a TV Quase, o pesadelo do audiovisual, do jeitinho que ela é, a um público que não sabia da gente. É um momento especial. E vai ser isso aí."

Choque de Cultura na Globo é namoro ou amizade?
(UOL Vê TV gravado em maio)

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.