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Íris Abravanel faz “jogo do contente” e minimiza crítica a texto de Poliana

Mauricio Stycer

13/09/2018 18h24


Iris Abravanel abraça Larissa Manoela no lançamento da novela do SBT, "As Aventuras de Poliana"


Uma cena de "As Aventuras de Poliana" exibida no início de agosto causou indignação entre muitos espectadores. Nela, uma criança negra desconfia que houve racismo por trás da acusação infundada de que cometeu um ato de vandalismo. Ao transmitir sua dúvida à coordenadora da escola, que também é negra, a menina ouve uma lição: o racismo está na sua cabeça.

O diálogo foi assim:

Kessya (Duda Pimenta): Porque eu sou negra todo mundo já fica desconfiado. Tipo: 'Só pode ter sido a Kessya mesmo!'
Helô (Elina de Souza): Kessya, sabe qual é um dos maiores culpados pelo preconceito?
Kessya: Os racistas.
Helô: Não, a nossa cabeça. E para que os outros parem de ver a nós, negros, como diferentes, nós precisamos parar de nos ver como diferentes, como piores ou melhores do que determinada raça!

Esta visão, expressa pela professora, é muito questionada por militantes negros e defensores da igualdade racial. No fundo, este ponto de vista pressupõe que o racismo não existe, é uma fantasia.

A autora de "As Aventuras de Poliana" já defendeu publicamente esta ideia. Em maio, no evento de lançamento da novela, Íris Abravanel foi questionada se abordaria questões como racismo na trama. E respondeu:

"A maneira de a gente pensar tudo, racismo, preconceito, bullying, está aqui [apontando para a cabeça]. Não está na nossa cor, no que nós somos, se somos ricos, pobres, está na maneira de pensarmos. Se eu preciso trabalhar? Preciso sim! Tenho uma responsabilidade com cada um, com cada próximo. Somos responsáveis pelo próximo. Esse preconceito é muito pequeno perto do que cada um de nós podemos fazer. Esse é o jogo do contente. Vamos mudar essa cabeça, crescer juntos"

Nesta quinta-feira (13), em outro evento sobre Poliana, Iris foi questionada sobre o diálogo entre Kessya e Helô, mas não respondeu diretamente. O seu comentário dá a entender que ela sentiu piedade de quem criticou a novela:

"Eu fiquei triste com isso. Tive que aprender a perdoar. Eu e minha família já sofremos muitas coisas, agressões muito sérias, muitas que a imprensa nem sabe. Pra nos curarmos dos traumas tivemos que aprender a perdoar. Senão a gente estaria no consultório de psiquiatra. O principal é perdoar, quando você perdoa você se coloca no lugar da pessoa e passa a entender melhor"

Íris disse ainda: "O perdão você pode trabalhar com amor, e o amor não tem cor, não tem idade, não tem defeito físico, não tem nada. Quando você tem amor você não pensa coisas. Acho que o amor é tão mais importante, mesmo com as críticas o meu amor é maior". E acrescentou que a situação serviu como um alerta: "Um alerta para tomar cuidado com as palavras, porque você pode machucar alguém. Não foi essa minha intenção".

Íris parece Poliana brincando do "jogo do contente" – a menina órfã consegue enxergar aspectos positivos mesmo nas piores situações. A autora da novela gosta tanto do romance juvenil da americana Eleanor H. Porter, publicado há mais de um século, que adotou a brincadeira como método para responder a contratempos.

Abaixo, a cena que causou indignação:

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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