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Uma dúvida e um elogio sobre o elenco de “O Tempo Não Para”

Mauricio Stycer

03/08/2018 14h57


Exibidos apenas três capítulos de "O Tempo Não Para", as impressões são as melhores possíveis, mas pretendo esperar mais um pouco antes de escrever a respeito. Gostaria neste texto de fazer apenas duas observações sobre o elenco da novela.

Escalar o ator certo para o personagem certo é uma arte que envolve inúmeras variáveis, muitas delas subjetivas. Não é ciência. Dito isso, observo que a escalação de Nicolas Prattes para viver um dos papeis principais do folhetim está me causando algum estranhamento. Ele não me parece ter o "physique du rôle" adequado para Samuca, "um dos maiores e mais jovens empresários do país". Este personagem, como informado em abril, estava destinado a Klebber Toledo.

Que personagem é esse que pode ser vivido tanto por um ator de 32 anos (Toledo) quanto por um de 21 (Prattes)? Samuca é filho de Carmen (Christiane Torloni, 61 anos), noivo de Betina (Cleo, 35) e está apaixonado por Marocas (Juliana Paiva, 25), uma das personagens do século 19 descongeladas em 2018.

Prattes é um ator jovem, talentoso, mas com pouca experiência na TV – atuou em "Malhação – Seu Lugar no Mundo" (2015) e em "Rock Story" (2016). Nestes primeiros capítulos de "O Tempo Não Para", tenho notado que ele repete uma marca do jovem e agitado Zac, que interpretou muito bem na novela de Maria Helena Nascimento – arregala os olhos, fala rápido, como se estivesse com taquicardia, e mexe muito a cabeça para expressar os seus sentimentos.

É digno de elogio a ousadia da Globo de colocar um ator tão jovem em papel de tamanho destaque e que pedia, aparentemente, um profissional mais velho. Torço para que dê certo, mas registro que ainda não superei o estranhamento.

Representatividade racial

Maicon Rodrigues, Micael, Carol Macedo, David Junior, Juliana Alves, Lucy Ramos, Solange Couto, Cris Vianna e Olivia Araujo na festa de lançamento da novela

Outra observação sobre o elenco de "O Tempo Não Para" diz respeito à escalação de atores negros e pardos. Na sequência do constrangimento causado pela Bahia branca de "Segundo Sol", a novela de Mario Teixeira parece ter procurado mais equilíbrio.

É verdade que a trama ajudou – vários escravos do século 19 estão entre os personagens descongelados nos dias de hoje. Mas, além deles, é notável a diversidade geral. São pelo menos 10 atores negros ou pardos entre os 40 principais.

Na festa de lançamento da novela, a atriz Lucy Ramos destacou o fato e publicou a imagem reproduzida acima. "Representatividade. 'O Tempo Não Para' te representa?", ela registrou.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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