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Novela “Jesus” incomoda católicos ao retratar outros filhos de Maria

Mauricio Stycer

03/08/2018 05h01

José (Guilherme Dellorto) e Maria (Juliana Xavier) em cena da novela 'Jesus'

A primeira fase de "Jesus", mais recente novela bíblica da Record, terminou nesta quinta-feira (02) com uma cena que causou incômodo aos espectadores católicos. O oitavo capítulo mostrou a volta de Maria e José a Galiléia, após uma temporada de refúgio no Egito.

Este retorno, segundo o relato de Mateus, ocorreu após a morte do rei Herodes. Na cena exibida pela novela, além do menino Jesus, o casal traz mais dois filhos, Tiago e José, o que contraria a fé na virgindade perpétua de Maria, tal como defendida pelo catolicismo.

A primeira fase da novela misturou relatos históricos com testemunhos religiosos. A novela mostrou o contexto do reinado do autoritário e paranoico Herodes, em meio à fé do povo na chegada de um Messias.

Antes de exibir o nascimento de Jesus, anunciado pelo anjo Gabriel, os capítulos iniciais centraram foco na relação entre Maria e José. A mãe de Jesus foi retratada como uma figura mais terrena, como a veem os evangélicos, em oposição à imagem mais elevada venerada pelos católicos.

Logo no início da trama, Maria é objeto de fofocas e questionamentos por anunciar que está grávida antes do casamento com José. A afirmação de que é virgem e espera o "filho de Deus" não convence a todos e uma falsa amiga espalha que o pai da criança pode ser um soldado romano. Esta história consta de escritos de um autor pagão anticristão, chamado Celso.

As dores do parto sentidas por Maria ao dar à luz o menino Jesus, como mostrou a novela, também pontuaram esta visão mais "humana" da personagem. Já o episódio do "massacre dos inocentes", atribuído a Herodes, não tem comprovação histórica e exalta a visão bíblica de que o rei temia a chegada do "rei dos judeus".

Antes da estreia, em entrevista a Nilson Xavier, a autora de "Jesus", Paula Richard, assegurou: "Não haverá pregação!" Foi uma observação em resposta aos problemas enfrentados por Vivian de Oliveira, autora de "Apocalipse" – a novela anterior sofreu mudanças determinadas por Cristiane Cardoso, filha de Edir Macedo e supervisora de texto das tramas bíblicas da emissora.

Contar uma história tão conhecida, e alvo de tantas interpretações, inevitavelmente iria provocar descontentamentos. Mas o passivo da Record nesta questão específica poderia ter levado a emissora a adotar uma abordagem mais cuidadosa em sua nova novela.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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