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SBT não arrisca e deixa a minissérie “Z4” com cara de novela infantil

Mauricio Stycer

27/07/2018 05h01


O projeto de novelas infantis do SBT é um dos casos de sucesso mais interessantes da televisão brasileira nesta década. Com as cinco novelas produzidas desde 2012, a emissora mostrou ter identificado claramente um nicho, conquistou um público fiel, explorou inúmeras oportunidades comerciais e fortaleceu o seu lugar na internet.

De "Carrossel" (2012) a "Aventuras de Poliana" (2018), passando por "Chiquititas" (2013), "Cúmplices de um Resgate" (2015) e "Carinha de Anjo" (2016), o SBT estabeleceu um padrão e consolidou um mercado. Só há motivos para comemorar, ainda mais num momento como o atual, de crise econômica e guerra de audiência.

Por tudo isso, é uma decepção ver a falta de ousadia de "Z4", minissérie que o canal de Silvio Santos estreou nesta quarta-feira (25), na faixa horária das 22h, depois da exibição, em sequência, da nova "Poliana" e da reprise de "Chiquititas".

Realizada em parceria com Disney Channel, Formata Produções e Sony Music, "Z4" conta a história da criação de uma banda de meninos, administrada por um produtor musical veterano e decadente, Zé Toledo (Werner Schunemann).

Cada garoto, como seria de se esperar, representa um universo diferente: Luca (Pedro Rezende) é um youtuber bem sucedido; Enzo (Apollo Costa), um jovem de família rica criado para gostar de música clássica; Paulo (Gabriel Santana), um hábil dançarino de origem humilde; e Rafael (Matheus Lustosa), um garoto romântico e tímido, que compõe canções de amor.

O tema é excelente, mas os dois primeiros episódios mostraram que o SBT optou por fazer um programa para o mesmo público de suas novelas infantis. Não precisava. Apesar do horário, que permitiria algo mais adulto e sério, a abordagem escolhida parece ser a mais boba possível, no limite do caricato.

Zé Toledo tem rompantes de bedel de escola (de "Poliana"?). Sua assistente, Judith (Angela Dippe), exibe a descontração da cozinheira de "Carinha de Anjo". Os garotos, todos, parecem personagens de alguma novela infanto-juvenil – bem exagerados. E por aí vai. Só a filha do produtor, Pâmela (Manu Gavassi), não soou fora do tom.

Os bastidores da indústria musical, o universo de fãs-clubes e o mundo dos youtubers, entre outros, são assuntos que podem ser desenvolvidos em "Z4" de uma forma um pouco mais ambiciosa. Espero que isso aconteça. Mas o que a minissérie mostrou neste início indica a opção por um outro caminho, mais fácil e óbvio.


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.