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“Mister Brau” discutiu racismo e preencheu lacuna na TV, diz Lázaro Ramos

Mauricio Stycer

12/06/2018 22h44

Com um episódio gravado em Luanda, em Angola, "Mister Brau" termina nesta terça-feira (12). Foram 52 episódios, exibidos ao longo de quatro temporadas, entre 2015 e 2018. Criado por Jorge Furtado e protagonizado por Lázaro Ramos e Taís Araújo, é um programa histórico – pela primeira vez, um casal de personagens negros bem-sucedidos protagonizou uma série na Globo.

"Mister Brau" teve uma média de 22 pontos de Ibope. Em depoimento em sua página do Facebook, Furtado observou: "O fato de termos na televisão aberta brasileira uma história com personagens negros de sucesso, ricos, inteligentes, poderosos, honestos e criativos, vivendo do seu talento e sua arte, com uma família, sempre nos pareceu mais importante do que aquilo que dizíamos". E acrescentou: "O Brasil é um país racista, e como não seria com quase quatro séculos de escravidão nunca inteiramente abolida? O racismo não é um problema dos negros, é um problema do Brasil. Que precisa ser combatido de todas as formas possíveis."

Conversei com Lázaro Ramos na noite de terça, um pouco antes da exibição do último episódio. Ele estava em sua casa, no Rio, na companhia de amigos e colegas que participaram, diante e atrás das câmeras, de todas as temporadas. O ator classifica "Mister Brau" como um dos projetos mais importantes de sua vida.

"Foi importante, em primeiro lugar, por trazer uma família que não estava na TV brasileira. Uma família de origem humilde que venceu através do seu trabalho, e que celebrava a vida. Isso é muito diferente de alguns personagens que são de estratos populares e a gente ri deles. Brau e Michele, ao contrário, as pessoas queriam ser eles, o que é uma diferença fundamental. Isso faltava na televisão e Brau preencheu com maestria", diz Lázaro.

"Além de levar humor e de falar de temas relevantes, como racismo, feminismo, novos formatos de família, adoção, entre tantos outros, o público se apropriou da série", afirma o ator, contando que leu recentemente uma tese acadêmica sobre "Mister Brau". "O estudo diz que Brau resignificou o conceito de elegância na TV, falando de várias pessoas que passaram a ser vestir como os personagens. E não apenas em festas, mas também em ambientes de trabalho, se sentindo à vontade de transitar na cidade com esta estética afro-brasileira do visual de Brau e Michele".

Sobre o final da série, gravado na África, Lázaro diz: "Esse último episódio termina do jeito que a gente queria, falando de orgulho da nossa origem, de orgulho desse projeto que a gente fez. Foi uma grande vitória ter conseguido, no fim da série, ter ido a Luanda, para gravar um programa que bebeu tanto dessa musicalidade, do vestuário, de conceitos".

Conclui Lázaro: "Só tenho coisas lindas a falar do Brau. Sou muito orgulhoso. É um dos projetos mais importantes da minha vida. Quando você tem parcerias honestas e corajosas, o resultado é esse".

Lázaro: "Uso as agressões para estabelecer diálogo" (UOL Vê TV, 2017)


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.