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Crise econômica ajuda a explicar onda de game shows na TV, diz Endemol

Mauricio Stycer

17/05/2018 05h01


O ano está bom na TV para os game shows. Na Globo, Luciano Huck já exibiu "Quem quer ser um milionário" e, desde março, apresenta o "The Wall" (imagem acima). Na Band, José Luiz Datena estreou "A Fuga". No SBT, há o "Roda a Roda", "Jogo das Fichas" e planos de relançar o "Topa ou Não Topa". A RedeTV! conta com "O Céu É o Limite"

Uma das explicações para este boom pode ser a crise econômica prolongada no país. "Em tempos complicados, conflituosos e de crise econômica os telespectadores buscam por programas que tragam otimismo e diversão, e normalmente as demandas por game shows aumentam nesses momentos", diz a argentina Juliana Algañaraz, diretora geral da Endemol Shine Brasil.

Uma potência mundial, a Endemol Shine licencia e/ou produz inúmeros formatos em exibição hoje no país, como "BBB", "Show dos Famosos" (no "Domingão do Faustão") e "The Wall" (na Globo), "Batalha dos Confeiteiros" e "Dancing Brasil" (na Record), "MasterChef" (na Band) e "Cabelo Pantene" (no SBT). Também é dona de "Canta Comigo", que Gugu Liberato vai apresentar ainda este ano.

Na entrevista a seguir, feita por email, Juliana Algañaraz fala especificamente sobre esta nova onda de game shows – os programas de perguntas e respostas que oferecem compensação em prêmios e dinheiro aos participantes. Vários deles são licenciados pela Endemol. Ela descreve o modelo de produção do "The Wall" (cinco versões diferentes foram gravadas no Brasil), fala da possível volta do "Topa ou Nao Topa" e tenta explicar por que o gênero está novamente em alta.

Por que todas as versões para América Latina do "The Wall" foram gravadas em sequência em um estúdio no Brasil? O que isso representa em matéria de contenção de custos? Esse modelo de produção é inédito? Foi testado antes com algum outro programa? Em outro país?
O "The Wall" é um game show que exige uma infraestrutura única. A alma deste formato é o cenário com a parede com mais de 14 metros de altura e o software de última geração que é usado internacionalmente. É um programa que pede por muito espaço físico e uma grande produção de estrutura.

Esse modelo de hub de produção não é novidade no mercado de produção – dentro da Endemol Shine Group tivemos isso com algumas versões internacionais do "Fear Factor", por exemplo – mas esta foi a primeira vez que o Brasil deu lugar a uma dessas megaproduções internacionais da Endemol Shine, trazendo os olhos do mercado latino-americano para o país. Antes do nosso centro de produção para as versões da América Latina, o "The Wall" já tinha outros dois pontos internacionais de produção ativos: um construído na França e um segundo na Polônia.

No "hub" da América Latina, construído no ano passado, nossa equipe gravou as primeiras temporadas das versões do Brasil (TV Globo), Argentina (Telefe), Chile (Telecinco), Colômbia (Caracol TV) e Uruguai (Canal 10). Elas foram gravadas em sequência porque não faz sentido ter uma estrutura imensa como essa montada e não ser utilizada. Não é uma questão de contenção de custos e sim uma otimização de gastos, além de ser uma forma inteligente, ágil e realmente produtiva de utilizar o espaço alocado e a equipe.

O que pode contar sobre a volta do Topa ou não Topa? Já tem data? Já tem apresentador? A experiência com o SBT foi boa? O programa foi exibido duas vezes, com interrupções, com dois apresentadores diferentes (Silvio e Justus).
A gente ficou muito feliz em voltar com esse formato para a televisão brasileira. O "Deal or No Deal" é o formato que tem mais versões realizadas no mundo dentro do catálogo da Endemol Shine Group. Mais de 90 territórios já fizeram esse game show. Quando ele foi feito aqui no passado, primeiro com o Silvio e depois com o Justus como apresentadores, também foi um grande sucesso de audiência e de licenciamento. Temos certeza que isso acontecerá novamente.

O retorno desse formato está acontecendo não apenas no Brasil e isso só reforça como o gênero de game shows está voltando com força dentro do mercado de entretenimento mundial. Só neste ano, o "Deal or No Deal" voltou a ser licenciado em dez países, incluindo Brasil, Holanda e Estados Unidos. Neste último, o formato está voltando a CNBC após uma pausa de nove anos, e voltará com o apresentador da primeira versão, Howie Mandel. É um game show atemporal e que funciona mundialmente.

Sobre a versão brasileira eu ainda não tenho maiores informações sobre quem irá apresentar e quando vai estrear. Nós vendemos a licença do formato em fevereiro deste ano e a produção será realizada pelo próprio SBT. A experiência em trabalhar com a emissora do Silvio Santos sempre foi muito boa, tanto é que este formato está voltando ao ar pela terceira vez. Já tivemos outros sucessos do gênero de game show por lá como o "Um Milhão na Mesa" e o "Um Contra Cem".

Poderia falar sobre valores de licenciamento? Dar alguma ideia de quanto as emissoras precisam pagar para exibir estes programas. É mais barato do que realities show?
Nós não abrimos valores de licenciamento, mas ficamos muito satisfeitos em ver que os nossos formatos fazem muito sucesso entre o público, anunciantes e plataformas no mercado brasileiro. São dez anos de história da empresa no Brasil, isso sem contar com o Big Brother e outros formatos que vieram antes até do escritório brasileiro existir.

Em 2017, um ano complicado pela crise econômica que a gente vê que o país está passando, a Endemol Shine Brasil conseguiu crescer 151% o faturamento, trazendo para o país produções internacionais como foi no The Wall.

É preciso entender que não existe, necessariamente, um gênero de entretenimento mais caro do o que outro. A estrutura de um programa tem várias nuances: desde o cenário, tempo de produção e gravação, a tecnologia que será utilizada, quantidade de episódios licenciados, enfim… tudo depende muito do que o cliente fecha no acordo.

O que explica esta "volta" dos games shows? Está ligada à crise pela qual passam as emissoras? Ou pela crise do país? O sonho de ganhar prêmios em dinheiro é um chamariz em tempos de crise?
Dentro da Endemol Shine Group nós identificamos que nos locais onde atuamos, o mercado de entretenimento, veio crescendo a demanda por game shows, sejam os quizz shows ou physical game shows. Uma das possíveis razões para isso é que em tempos complicados, conflituosos e de crise econômica os telespectadores buscam por programas que tragam otimismo e diversão, e normalmente as demandas por game shows aumentam nesses momentos.

A volta do "Deal or No Deal" e a rápida absorção mundial do "The Wall" são alguns pontos que refletem essa busca. O "The Wall", por exemplo, entrou na lista de formatos mais influentes pela C21 no ano passado. O game show é um gênero tão incrível como os outros que temos no nosso catálogo de formatos originais. Dentro da empresa nós temos atualmente mais de 280 formatos de game shows disponíveis para o mercado internacional. Normalmente é um gênero fácil de implementar mundialmente, com regras únicas, que pensam no âmbito global.

No Brasil, a volta dos game shows está acompanhando essa tendência nas televisões, e são sucesso em audiência, como é o caso do "O Céu É o Limite", na Rede TV!, o "Topa ou Não Topa, no SBT, e o "The Wall", na Globo, do nosso catálogo. De exemplos fora do nosso catálogo do que está no ar temos muitos, como o "Roda a Roda" no SBT, "A Fuga", na Band, o "Quem quer ser um milionário", na Globo.


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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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