Topo

Horário gratuito do eleitor (senta que lá vem textão)

Mauricio Stycer

08/05/2018 08h56

Por Alfredo Ribeiro

Com o projeto "O Brasil que eu quero", a Globo inaugurou na TV o horário eleitoral gratuito para quem não é candidato a nada. O modelo é um pouquinho menos engraçado que o velho formato original que o TRE concede à baboseira das campanhas políticas. Na melhor das hipóteses, é igualmente insuportável.

Com direito ao constrangimento dos comentários que os âncoras dos telejornais são obrigados a fazer a respeito da chatice que acabamos de assistir. Todos os dias, a cada noticiário da Globo, os pobres coitados destacam a importância de uma entre tantas platitudes repetidas à exaustão – sempre com a câmera do celular em posição William Bonner – para definir o país que todos esperam.

Que país é este? A julgar pelo horário político do eleitor criado pelo Jornalismo da Globo, do Oiapoque ao Chuí o brasileiro não tem mais que 15 ideias de uma obviedade rodriguiana para consertar toda esta porcaria que aí está. Querem um país sem corrupção, desigualdade, preconceito, intolerância, desmatamento, obras públicas inacabadas ou fome; com saúde, educação, trabalho, estradas bem cuidadas, respeito, segurança, lazer e duas mariolas (confere aí, por favor, se deu o total de 15 desejos pátrios).

É mais ou menos o que a gente escuta a cada temporada da propaganda política obrigatória na TV, sem a palhaçada dos candidatos bizarros de todo pleito. Não tem tiririca no horário gratuito do eleitor da Globo, mas a banalidade dialética dos programas é a mesma. Não à toa uns elegem os outros. É falsa a tese de que o Brasil é uma coisa e o brasileiro, outra. O Brasil é o brasileiro cuspido e escarrado: diz uma coisa e faz outra.

Mas não precisava a Globo tornar isso tão evidente como está ficando a cada edição de "O Brasil que eu quero". Se você também não aguenta mais o horário gratuito do eleitor, calma, 31 de agosto volta a propaganda política obrigatória na TV. Até as eleições de outubro, as duas vão ficar no ar. Prepare-se!

Alfredo Ribeiro é jornalista, coordenador de internet do Instituto Moreira Salles. Seu alterego, Tutty Vasques, nascido em 1986, ainda é um dos melhores e mais bem-humorados cronistas do Rio. Este texto foi publicado originalmente na página pessoal de Alfredo no Facebook e está sendo republicado no blog a meu pedido.

Siga o blog no Facebook e no Twitter.

Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.