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Globo e Record fazem cobertura desproporcional da enchente no Rio

Mauricio Stycer

16/02/2018 12h00


As chuvas que atingiram o Rio na noite de quarta-feira (14), causando quatro mortes, mereceram tratamento muito diferente dos principais telejornais da Globo e da Record no dia seguinte. Alguns números chamam a atenção para esta desproporção.

O "Jornal Nacional" de quinta (15) exibiu três reportagens diferentes sobre o assunto, num total de 13 minutos. Este conjunto representou 26,5% do total da edição.

Já o "Jornal da Record" apresentou apenas uma reportagem, de pouco mais de 5 minutos. Ela representou 13,7% da edição.

O prefeito do Rio, Marcelo Crivella, foi objeto de uma das três reportagens do "JN" sobre o assunto, com duração de 4:45 minutos. No "JR", Crivella apareceu no fim da única reportagem, ao longo de 35 segundos.

Também chamou a atenção o tratamento dado ao prefeito pelos dois telejornais. A reportagem do "JN", nitidamente crítica, começou com o apresentador Rodrigo Bocardi dizendo: "E o prefeito do Rio, Marcelo Crivella, do PRB, ainda não retornou da viagem a Europa. A previsão é que ele volte ao Rio somente amanhã."

Na sequência, o repórter Pedro Bassan falou: "Imagens de um caos. E a pergunta que não quer calar: cadê o prefeito do Rio? Hoje, Marcelo Crivella está a mais de 10 mil quilômetros de distância, na Suécia."

Bassan destacou que há divergências sobre as razões da viagem do prefeito. Crivella afirma estar em missão oficial, enquanto um dos locais que visitou, a Agência Espacial Européia, na Alemanha, informou que a visita foi particular.

Ao aparecer no vídeo, o repórter estava com os pés dentro de uma área alagada (imagem no alto), cercado por moradores que portavam faixas criticando a falta de atendimento da Prefeitura. "As faixas já estão até prontas porque os moradores estão acostumados com o abandono e o esquecimento. A resposta da prefeitura só chegou 15 horas depois", informou.

No "JR", a repórter Carolina Novaes disse: "O prefeito Marcelo Crivella, em viagem à Suécia, acompanhou o trabalho da Defesa Civil nas ruas da cidade após o temporal. Por nota, ele lamentou as mortes provocadas pela chuva e destacou que todos os órgãos estão trabalhando para prestar toda assistência à população".

Tenho a impressão de que ambas as emissoras exageraram, cada uma para um lado. E a explicação para isso talvez resida no fato de Crivella ser bispo licenciado da Igreja Universal e sobrinho de Edir Macedo, dono da Record. O PRB, partido ao qual é filiado, é presidido por Marcos Pereira, também licenciado da IURD.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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