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Entre as novelas no ar, “Tempo de Amar” é a que dá mais prazer de assistir

Mauricio Stycer

24/01/2018 05h01


Nesta sexta-feira (26), no capítulo 105 de "Tempo de Amar", vai começar o primeiro de uma série de acertos de conta esperados pelos fãs do folhetim de Alcides Nogueira. Maria Vitória (Vitória Strada) dará uma surra em Lucinda (Andreia Horta) após descobrir que a vilã se casou com Inácio (Bruno Cabrerizo) e fez de tudo para que ela acreditasse que ele estava morto.

Em fevereiro, segundo informa o site Notícias da TV, outros dois encontros muito esperados acontecerão. Primeiro, Inácio e Maria Vitória vão se rever, em Portugal, após 110 capítulos de desencontros. E, depois, Vicente (Bruno Ferrari) e Inácio ficarão frente a frente e discutirão sobre o amor em comum pela mocinha da novela.

Já não era sem tempo, diga-se. O público de "Tempo de Amar" acompanhou de perto uma sucessão de dramas de grande intensidade e já merecia, faz tempo, algum refresco. Tudo deu errado para Maria Vitória e Inácio em mais de quatro meses de novela. Até brinquei que o folhetim deveria se chamar "Tempo de Sofrer".

Mas reconheço que a trama de Alcides Nogueira é muito bem escrita e armada – e tem se desenvolvido com muita competência, em um trilho claramente bem planejado. É um folhetim clássico, um novelo que vem se desenrolando lentamente, com um pé nas novelas de rádio, como observou o crítico Nilson Xavier, e sem a preocupação de querer agradar o público com facilidades.

O autor ofereceu, aos poucos, algumas boas histórias além da principal. Destaco, em especial, toda a trama em torno do bom vivant Bernardo (Nelson Freitas) e da arrivista Alzira (Débora Evelyn), a mais bem-sucedida na sua combinação de drama e comédia em boas doses. Ela envolve ainda a história de Pepito (Maicon Rodrigues), filho bastardo do dono da casa com a empregada Balbina (Walkiria Ribeiro). E, ainda, Celina (Barbara França), a filha patricinha (de época) que amadurece e se torna uma mulher com personalidade.

Outro grande prazer na novela é acompanhar o desempenho de alguns atores. Em outro texto, me dedicarei mais ao assunto, mas gostaria destacar já Letícia Sabatella, impressionante como a vilã Delfina, e Mariza Orth, incrível como Celeste Hermínia.

Lamento que Alcides Nogueira tenha sido tão tímido no desenvolvimento do contexto em que se passa a história. O ano de 1929 é repleto de acontecimentos importantes no Brasil e a novela o tempo todo parece se lembrar disso, mas não se atreve a ir mais fundo. O tema do feminismo é eventualmente abordado, assim como a crise econômica que levará à ruína os barões do café e a crise política que vai desembocar na Revolução de 1930.

"Tempo de Amar" deve terminar no final de março. Ainda há dois meses de histórias pela frente. Confesso que a novela das 18h da Globo me enredou e hoje é a que me dá mais prazer de assistir.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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