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Capanga da vilã Sophia faz referência ao 1º papel de Marieta Severo na TV

Mauricio Stycer

22/01/2018 12h19


Com a intenção de se livrar da juíza Raquel (Erika Januza), a vilã Sophia (Marieta Severo) recorreu mais uma vez ao capanga Rato (Cesar Ferrario), em "O Outro Lado do Paraíso". "Eu preciso dos seus serviços, Rato. Daquele tipo de serviço que você fazia pra mim antigamente", disse Sophia, antes de mostrar uma foto de Raquel e encomendar o crime.

Não é a primeira vez que Sophia lembra Rato sobre serviços feitos no passado. O personagem surgiu na novela em novembro, ainda na primeira fase, passada dez anos antes da atual. A vilã o contratou para matar Josafá (Lima Duarte) e disse, então: "Desde que vendi as fazendas que herdei de meu marido, não imaginava que voltaria a necessitar de seus serviços. Mas agora preciso. É urgente!".

Como sabemos, Rato executou o serviço, mas matou o homem errado. Em vez de Josafá, que não dormiu no bar naquela noite, o capanga de Sophia assassinou, por engano, Everton (Ravel Cabral), um amigo do avô de Clara (Bianca Bin), que estava no local.

É impossível não pensar na novela "O Sheik de Agadir" (1966-67) quando Sophia fala nos "serviços" que Rato fazia "antigamente". A trama da cubana Gloria Magadan (1920-2001) foi o primeiro trabalho de Marieta Severo na Globo. A atriz, então com 19 anos, encarnou a princesa árabe Éden de Bassora (à dir.).

O diretor daquela novela, Regis Cardoso (1935-2005), contou a Gonçalo Júnior, em entrevista publicada no livro "País da TV", o que aconteceu: "Muitos personagens, durante a novela, morreram nas mãos do Rato, que costumava estrangular suas vítimas. Quando a pessoa estava morrendo, dizia: 'Ah, então você é o Rato?', e o telespectador nunca ficava sabendo a identidade secreta do assassino. Segundo o pesquisador Nilson Xavier, blogueiro do UOL, a Globo promoveu um concurso para o público tentar descobrir a identidade do criminoso. Ninguém conseguiu responder à pergunta que era repetida inúmeras vezes: "Quem matou? Quem matou?".

No final, revelou-se que o Rato era a personagem de Marieta Severo. "Aquilo foi uma decepção geral", conta Regis Cardoso. "Fomos a ela e questionamos: 'Dona Gloria, por que colocar a Marieta para enfocar tanta gente? Ela não tem força, é tão pequenininha…' E ela respondeu: ' No, no, mas el Rato nos es apenas uma mujer, es una religion, uma secta'. Não é que deu certo e o público gostou?"

Em depoimento ao blog, Marieta se diverte ao lembrar do Rato original: "O que eu lembro da época de 'Sheik de Agadir' é que foi uma verdadeira comoção quando o capítulo final foi ao ar. Somente neste dia o público ficava sabendo que a princesa frágil, franzina, interpretada por mim, era quem estrangulava aqueles os homens enormes (risos). Só foi desvendado o mistério no último capítulo. Antes disso, só apareciam as mãos com luvas pretas. Era a personagem mais improvável para ser a assassina da história. Lembro que na época, há muitos anos, logo após o término da novela, eu estava caminhando em Copacabana quando começaram a atirar pedras na minha direção. Uma loucura".

As palavras de Marieta parecem estar inspirando Walcyr Carrasco em "O Outro Lado do Paraíso". A trama pode não ser tão rocambolesca quanto a do "Sheik de Agadir", mas muita coisa improvável está acontecendo na novela.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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