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Sem jeito como ator, Fiuk destoa do resto do elenco de “A Força do Querer”

Mauricio Stycer

28/09/2017 05h01


Quem chegou até aqui em "A Força do Querer" está cansado de saber que Ruy é um cretino. O personagem é um jovem rico, mimado e arrogante. Assumiu uma função profissional para a qual não tinha nenhum preparo. Encantou-se por Ritinha e contribuiu para o fim do casamento dela com Zeca.

Faz tudo errado sempre. Aceitou morar na casa dos pais com a mulher, o filho e uma amiga dela. Não consegue aceitar que a irmã tenha se descoberto transexual. Age como uma criança quando sabe que o pai tem uma amante. Abusa do poder econômico para conseguir demitir o rival e infernizar a sua vida.

É, enfim, um personagem importante na trama. Mas que, desde o início, se ressente das limitações do ator escolhido para vivê-lo.

Aos 26 anos, Fiuk não é mais uma criança, mas tem pouca experiência como ator. E tem demonstrado dificuldades de todo tipo para dar vida a Ruy. Para começar, basta olhar as imagens nesta página para entender que Fiuk aposta em gestos exagerados e caretas. Virou motivo de piada por isso.

No capítulo desta quarta-feira (27), Fiuk teve cenas fortes e dramáticas com dois atores com os quais não costuma contracenar na novela, Tonico Pereira (Abel) e Paolla Olveira (Jeiza). Sua falta de jeito, espantosa, saltou aos olhos mais uma vez.

Mesmo um cretino como Ruy pode ser sutil, às vezes – o que parece escapar à compreensão de Fiuk e de quem o dirige na novela. Além do problema de expressão facial, há também a voz. O ator tem dificuldades de modulá-la. Grita muito e não varia o tom. Fora a dicção, que está longe de ser a ideal.

A falta de repertório de Fiuk salta aos olhos, também, nas cenas dramáticas em que contracena com atores mais experientes e bem equipados. Isis Valverde (Ritinha), Carol Duarte (Ivana/Ivan), Maria Fernanda Cândido (Joyce) e Eugênio (Dan Stulbach) colocam o intérprete de Ruy, ainda que involuntariamente, no bolso. O mesmo acontece nas cenas com Zeca (Marco Pigossi), Edinalva (Zezé Polessa) e Irene (Debora Falabella).

É sempre delicado falar de atuação em novelas. São produções realizadas em ritmo industrial, com vários diretores e dezenas de cenas para gravar por dia. Já li vários depoimentos de atores sobre este processo e eles costumam depender muito da própria intuição para compor seus personagens.

Os mais inexperientes, porém, acabam mais expostos. Numa novela exibida no principal horário da Globo, dando ótima audiência, como ocorre com "A Força do Querer", a exposição é a maior possível. Por isso, lamento por Fiuk. No fundo, ele se meteu numa enrascada.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.