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Obrigar Silvio a mudar é uma violência, mas processo sugere que envelheceu

Mauricio Stycer

27/09/2017 05h01

Silvio Santos é de um tempo em que a televisão parecia uma extensão do circo e uma figura como Maísa Silva era vista antes como uma artista do que como uma criança. O conflito que ambos tiveram em junho, quando ele sugeriu uma aproximação dela com Dudu Camargo, foi mais um episódio em que o dono do SBT reafirmou sua convicção nesta forma popular de fazer TV.

Os tempos mudaram, porém. O constrangimento a que Silvio submeteu Maísa hoje não é visto mais como uma brincadeira. Onde alguns enxergam o triunfo do "politicamente correto", outros veem como uma luta desigual, onde o mais forte exerce o poder de humilhar o mais fraco.

Não que Maísa precise deste apoio do Ministério Público do Trabalho – ela se saiu muito bem no duelo com Silvio, como se pode ver no vídeo acima. Mas a ação dos procuradores contra o SBT tem o caráter educativo de dizer à emissora que é preciso, sim, pensar na pessoa que se esconde sob a máscara do artista.

O caso foi noticiado em primeira mão pela coluna de Monica Bergamo, na "Folha". O MPT não gostou do uso da palavra "brincadeira" no título da nota e justificou que o processo ocorreu por "violações à intimidade, à vida privada, à honra, à imagem de seus empregados e discriminação de gênero e não por ter feito uma 'brincadeira', como alguns veículos de comunicação divulgaram". O MPT pede que a emissora seja condenada a uma multa de R$ 10 milhões por danos morais coletivos

Este não é o primeiro problema do gênero que Silvio Santos enfrenta – foram vários nos últimos anos. E ele não parece disposto a mudar, o que é compreensível. Afinal, tem 86 anos e chegou ao posto de maior comunicador da TV brasileira sempre tratando os convidados do seu programa, famosos ou anônimos, como personagens de um show.

Obrigar o apresentador a mudar talvez seja, mesmo, uma violência. Mas o processo ajuda a lembrar que, ao ignorar os dias atuais, e insistir em comandar o seu auditório como antigamente, Silvio se tornou símbolo de uma televisão que envelheceu.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.