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3 indiretas que “Novo Mundo” mandou para políticos e juízes dos dias atuais

Mauricio Stycer

25/07/2017 04h01


Em meio à aventura romântica em estilo capa-e-espada protagonizada por Joaquim (Chay Suede) e Anna (Isabelle Drummond), "Novo Mundo" também trata de alguns importantes episódios históricos.

Ambientada em 1821-22, a novela das 18h da Globo mostra D. Pedro (Caio Castro), José Bonifácio de Andrada e Silva (Felipe Camargo) e Leopoldina (Leticia Colin) contracenando com personagens fictícios em cenas que discutem a situação do Brasil naquele período anterior à independência.

O texto de Thereza Falcão e Alessandro Marson é repleto de referências aos dias atuais. Nos últimos capítulos, houve três cenas em que os autores claramente mandaram "indiretas" a políticos e a juízes contemporâneos. Veja abaixo:

1. Políticos só pensam nos próprios interesses

Discutindo a proposta dos liberais de instaurar uma Assembleia Constituinte no Brasil, D. Pedro e seu ministro José Bonifácio tiveram um diálogo no capítulo desta segunda-feira (24) que pareceu falar de 2017-18:

Bonifácio: Qual seria o propósito da Assembleia Constituinte?
Pedro: O maior interessado seria o povo brasileiro.
Bonifácio: Sim. Tudo pelo povo. Mas será que o povo terá voz? Especialmente este povo, sem estudo, sem história…
Pedro: Pois não. Para isso existem os representantes.
Bonifácio: Sim. E esses representantes irão governar para o povo ou para os interesses próprios? Dar poder a pessoas inescrupulosas, que só pensam em interesses próprios, isso é muito perigoso. O único talento que essas pessoas têm é manipular o povo e fazê-los acreditar que eles o apoiam. Isso pode ter consequências gravíssimas, pode afetar o futuro do nosso país.


2. O canalha que daria um excelente deputado


No mesmo capítulo, o vilão Thomas (Gabriel Braga Nunes) explicou a Licurgo (Guilherme Piva) e Germana (Vivianne Pasmanter) por que Bonifácio é contra a Constituinte: "Porque numa Constituinte qualquer imbecil pode ser eleito". Virando-se para o dono da estalagem, acrescentou: "Licurgo, você sabia que daria um excelente deputado constituinte?" "Eu? Um representante do povo?", responde. "Sim. Você seria um político perfeito. É um canalha, não tem escrúpulos, metido a espertalhão e só pensa em si mesmo. Você seria capaz de vender a própria mãe", ensina Thomas.


3. O país em que as vítimas ficam presas e os culpados, soltos


No capítulo do último dia 19, Elvira (Ingrid Guimarães) e Joaquim (Chay Suede) estão detidos na cadeia, quando José Bonifácio os encontra. Diz Elvira: "Só no Brasil mesmo, onde as vítimas ficam presas e os culpados, soltos". Ao que o ministro de D. Pedro I responde: "A senhora tem toda razão."

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

Sobre o blog

Um espaço para reflexões e troca de informações sobre os assuntos que interessam a este blogueiro, da alta à baixa cultura, do esporte à vida nas grandes cidades, sempre que possível com humor.