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Proeza: Bial entrevista Wagner Moura sobre Narcos sem citar o nome da série da Netflix

Mauricio Stycer

12/07/2017 15h58


A boa entrevista de Wagner Moura a Pedro Bial, exibida na Globo no fim da noite de terça-feira (11), teve como um de seus assuntos principais a atuação do ator na série "Narcos", da Netflix.

Acompanhado da banda do "Conversa com Bial", Moura cantou duas músicas da trilha de "Narcos", "El Ratón" e "Tuyo" (esta, a da abertura). No sofá do apresentador, falou sobre como fez para incorporar Pablo Escobar, relatou as dificuldades para perder os 20 quilos que engordou para viver o personagem e sublinhou que a temática da série, o narcotráfico, diz respeito à realidade brasileira.

Um espectador que tenha assistido à entrevista, mas não viu "Narcos", boiou completamente em diferentes momentos. Bial fez contorcionismo para não falar as palavras "Narcos" e "Netflix". Repetiu várias vezes a palavra "série" e referiu-se ao trabalho de Moura como "a sua interpretação de Pablo Escobar".

Em uma ocasião, introduziu uma pergunta assim: "Depois de ter feito Pablo…" Também questionou: "Outra coisa de composição física que me chamava a atenção no Pablo era o queixo".

Ao perguntar para o ator sobre as suas divergências políticas com José Padilha, Bial também evitou mencionar que estava fazendo esta questão porque o diretor comandou Moura em "Tropa de Elite" (2007 e 10) e "Narcos" (2015 e 16).

O mais curioso é que o apresentador citou, sem qualquer constrangimento, os títulos de um grande número de peças, filmes e novelas que Moura já fez, como "A Máquina", o próprio "Tropa de Elite" e "Paraíso Tropical", entre muitos outros. Só "Narcos" pareceu proibido.

A entrevista também teve a Globo como assunto. Bial contou que, ao começar a trabalhar na emissora, Moura foi classificado como um "ator de tipos". Em outro momento, perguntou: "Você era daqueles atores que dizia 'na TV Globo nunca vou trabalhar'?" Ao que o ator respondeu: "Eu não. Eu queria trabalhar na Globo. Eu queria mesmo trabalhar no cinema. Mas queria fazer uma novela".

Por fim, ao falar sobre as dificuldades na captação de recursos para fazer um filme sobre Carlos Marighella (1911-1969), Bial perguntou (já sabendo que a resposta seria positiva): "A Globo Filmes está envolvida no projeto do filme?"

Moura citou a Netflix ao falar sobre o projeto de um filme que está produzindo sobre o diplomata brasileiro Sergio Vieira de Mello (1948-2003), comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que morreu em Bagdá durante um atentado terrorista da Al Qaeda.

Questionei a Globo se é vetado falar na TV o título de séries concorrentes da emissora. "Não há orientação para que os entrevistados evitem falar os nomes de seus trabalhos que não são da Globo. Do contrário, o Bial não teria começado o programa falando sobre 'Narcos', com a entrada do Wagner cantando a música da série", respondeu a emissora.

Diferentemente do que dá a entender a Globo, Bial não disse o nome da série em momento algum da entrevista.

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Sobre o autor

Mauricio Stycer, jornalista, nascido no Rio de Janeiro em 1961, mora em São Paulo há 30 anos. É repórter especial e crítico do UOL. Assina, aos domingos, uma coluna sobre televisão na "Folha de S.Paulo". Começou a carreira no "Jornal do Brasil", em 1986, passou pelo "Estadão", ficou dez anos na "Folha" (onde foi editor, repórter especial e correspondente internacional), participou das equipes que criaram o diário esportivo "Lance!" e a revista "Época", foi redator-chefe da "CartaCapital", diretor editorial da Glamurama Editora e repórter especial do iG. É autor dos livros "Topa Tudo por Dinheiro - As muitas faces do empresário Silvio Santos" (editora Todavia, 2018), "Adeus, Controle Remoto" (Arquipélago, 2016), “História do Lance! – Projeto e Prática do Jornalismo Esportivo” (Alameda, 2009) e "O Dia em que Me Tornei Botafoguense" (Panda Books, 2011).

Contato: mauriciostycer@uol.com.br

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