Uma crítica à Globo, as ofensas dos fãs de Claudia Leitte e as lições que tirei
Depois de duas temporadas dedicadas a apresentar perfis de grandes atletas, às vezes pouco conhecidas do grande público, o quadro "Mulheres Espetaculares" resolveu investir, em 2017, em celebridades – atrizes, apresentadoras de TV e cantoras.
A escolhida para encerrar o "Esporte Espetacular" neste domingo (09), momentos antes da estreia de um novo programa musical, o "Popstar", foi Claudia Leitte. Em vez de mostrar a sua ligação com algum esporte ou com atividades físicas que faz, a repórter Juliana Sana propôs à cantora aprender a surfar.
Foram 17 minutos de elogios e hipérboles: "Pra uma baiana, ter que encarar um mar de 14 graus já é um baita desafio", disse Juliana. "Vejo que a persistência e a disciplina são as maiores qualidades desta estrela. E não é à toa que ela chegou onde chegou", observou.
"A fé e a esperança não são suficientes. É preciso algo mais físico. A luta junto com a força de vontade. E isso se chama perseverança. E é o que leva a nossa guerreira a surfar a primeira onda da sua vida", festejou Juliana.
Neste momento, escrevi no Twitter:
Chamar a Claudia Leitte de "nossa guerreira" porque ela conseguiu surfar uma onda depois de uma semana de treino é dose.
Minha observação provocou 249 "curtidas", foi retuitada 35 vezes e gerou 46 comentários. Entre estes, vários de fãs de Claudia Leitte me ofendendo. Isso me levou a escrever um segundo tuite, dizendo:
O pior é que os fãs da Claudia Leitte acham que ela é "uma guerreira" porque conseguiu surfar uma onda. Por favor…
A temperatura subiu. Esta observação mereceu 312 "curtidas", 44 retuites e 92 comentários. E as ofensas baixaram ainda mais de nível.
Estou no Twitter há nove anos e conheço bem a forma como os fã-clubes reagem a críticas que atingem os seus artistas queridos. Como costumam ser pessoas jovens, uma ofensa típica é me chamar de velho. Por exemplo: "Vai sacar a aposentadoria, vovô". Ou: "Tu é um velho mal amado que perde tempo nas redes sociais ao invés de estar no asilo".
Fora os "velho aposentado", "velho implicante", "véio" e "velho ridículo". E, o mais furioso de todos: "Então vai surfar você, seu velho fudido que ninguém conhece, se morrer amanhã não vai fazer falta".
E a outra forma de ofensa muito recorrente é a de gênero em chave homofóbica:
"Cê tá brava?", "Cê tá nervosa", "Tá nervosa por que, mona?"; "é falta de dar o cu né… Só pode"; "aceita maricona"; "vaca frustrada".
Um fã, em especial, foi capaz de juntar os dois preconceitos num comentário só: "esse velho tá sentindo falta de uma rola, só pode".
Uma terceira forma de responder a críticas é com palavrões, simplesmente. Foram vários também (vou poupar o leitor).
Em tom apologético, Juliana Sana encerrou sua reportagem dizendo: "A cantora nos mostra que não basta ter talento pra triunfar. E que é preciso bater muitas vezes na mesma porta. Claudia Leitte é uma mulher espetacular".
Reconheço que deveria ter me limitado ao primeiro comentário no Twitter. Minha crítica foi ao tom do programa, que transformou Claudia Leitte numa "mulher espetacular" por ter sido capaz de surfar numa prancha grande. Ao ser ofendido pelos fãs, deveria ter ficado quieto e não ter feito o segundo comentário. Mas ele serviu, ao menos, para mostrar como alguns fãs, ao sair em defesa do artista querido, são tão preconceituosos.
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